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Sítio romano de Terlamonte ao abandono

Apesar da importância científica do local, os trabalhos estão suspensos desde 2003 e da autarquia da Covilhã não chegam quaisquer ajudas

Suspensos desde 2003, os trabalhos na estação arqueológica de Terlamonte revelaram um local ímpar no quadro do povoamento romano da Beira Interior. Escavado desde o ano 2000 por uma equipa de estudantes da Universidade de Coimbra (UC), o assentamento foi sujeito a um trabalho de campo que, no total, perfaz sete meses e um investimento do Instituto Português de Arqueologia (IPA) de perto de 40 mil euros. Mas desde então, o local parece condenado ao abandono, não estando, sequer, sinalizado.

Ainda assim, o sítio continua a ser estudado por Pedro Carvalho, do Instituto de Arqueologia da UC, o arqueólogo que coordenou o trabalho de campo e que se prepara para, no próximo ano, apresentar uma tese de doutoramento que englobará um estudo sobre o local. Segundo dados do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), o assentamento estará em vias de classificação, por despacho de 5 de Dezembro de 1997, uma medida recomendada pelo arqueólogo, «de forma a assegurar uma maior protecção dos vestígios arqueológicos», que são «indiscutivelmente relevantes» do ponto de vista científico. Antes de tudo, «por se conhecer muito pouco os núcleos romanos» semelhantes a este de Terlamonte, mas também porque o lugar se apresenta num «estado razoável de conservação». Deste modo, e se o sítio for escavado na totalidade, esta será a primeira quinta romana integralmente conhecida e escavada na Beira Interior, o que permitirá que o local seja «citado pelos investigadores portugueses e espanhóis que estudam o período de dominação romana peninsular».

Mas por agora, Pedro Carvalho acredita ser «indispensável» dar continuidade ao trabalho de campo, dada a «importância que o sítio encerra e por todo o esforço já investido no local». Porém, seria necessária «uma plataforma financeira que permitisse a continuidade das escavações no decurso do Verão do próximo ano e começar já a equacionar a possibilidade de um processo de “musealização” do sítio», sustenta. E para isso são precisos apoios. A Câmara da Covilhã foi contactada pelo próprio arqueólogo «em 2000», mesmo antes de serem iniciados os trabalhos, sem qualquer resultado até hoje. Contudo, trata-se de um local que poderia constituir «um dos pontos de paragem de um percurso turístico que aliasse o potencial paisagístico e patrimonial da região», sendo que para isso o apoio «da população local e da autarquia é fundamental», assegura o arqueólogo. Contactado por “O Interior”, Carlos Pinto escusou-se a grandes comentários, adiantando não ter sequer «conhecimento de quaisquer achados arqueológicos» naquela zona, embora em Setembro passado se tenha referido ao local por altura da campanha eleitoral, quando questionado por “O Interior” sobre a localização do novo aeroporto.

Por ora, o desejo da equipa de arqueólogos é prosseguir com os trabalhos. Para isso, vai ser feita brevemente uma nova candidatura junto do IPA para prolongar o período de escavações, que entretanto terminou. Caso contrário, o assentamento poderá vir a ser coberto, «de forma a que os achados não sejam sujeitos a um processo de degradação e erosão», adianta Pedro Carvalho. O sítio romano de Terlamonte é uma exploração agro-pecuária de média dimensão construída em meados do século I d.C. e habitada, supostamente, durante três ou quatro gerações. Trata-se de uma quinta, cujo edifício residencial teria cerca de 40 metros de comprimento por 20 metros de largura. Para além desta área edificada, foram ainda encontrados em escavação uma série de objectos e estruturas, como pesos de tear, que provam a prática de tecelagem, ou até restos de fundição e de uma forja, denunciadores do fabrico próprio de alguns utensílios agrícolas em ferro e bronze.

Rosa Ramos

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