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Sintra, o outro paraíso

Opinião – Ovo de Colombo

Com o calor a apertar, os dias grandes e as crianças a ficarem cansadas das férias em casa, começam os planos para uma ou outra escapada que possa contentar toda a família. Um dos destinos que nunca falha é Sintra! Se é daquelas pessoas que não visita esta vila há algum tempo, então prepare-se para ver edifícios recuperados, jardins arranjados, acessibilidades melhoradas e um sem fim de atividades.

Claro que ao chegarmos a Sintra sempre nos revestimos daquela sensação de termos invadido outra dimensão: o ar fresco da serra, o verde das árvores que bailam com a brisa suave, as casas antigas inseridas com maestria na paisagem. Enfim, aquela aura mística que flutua no ar como se entrássemos noutro espaço, noutro tempo… «um bom paraíso, no caso de Deus fazer outra tentativa», como escreveu José Saramago no “Memorial do Convento”.

Embora a vila tenha o seu encanto e as queijadas uma legião de fãs, é o conjunto arquitetónico-ambiental que se destaca. Atualmente, excetuando a Quinta da Regaleira e o Palácio de Seteais, a maioria dos monumentos e parques encontra-se sobre gestão da empresa Parques de Sintra – Monte da Lua (PSML). Criada exclusivamente com capitais públicos, no ano 2000, cinco anos após a classificação da Paisagem Cultural e Natural de Sintra como Património da Humanidade pela UNESCO, a PSML tem vindo a realizar um trabalho muito meritório na recuperação e requalificação dos vários espaços que gere, alguns dos quais estiveram longo tempo encerrados ao público, tais como o Palácio de Monserrate e os seus jardins, o Chalet da Condessa d’Edla e o seu jardim integrados no Parque da Pena, o Salão Nobre do Palácio da Pena, as muralhas e espaços do Castelo dos Mouros, casas de guarda, abegoarias, lagos e caminhos, etc.

O sucesso do modelo de gestão, que passa pela sustentabilidade económica sem recurso a dotações orçamentais por parte do Estado, e a aposta em restaurar o património, a par de uma eficaz estratégia de divulgação para captar visitantes e bem acolhê-los, fizeram da PSML um exemplo de boas práticas no âmbito da gestão cultural; aliás “premiada” com a transferência dos Palácios Nacionais de Sintra e de Queluz para a sua tutela em 2012, para além de inúmeros galardões internacionais, como um World Travel Award 2013. Uma forte aposta da PSML é a variedade de serviços prestados e atividades disponíveis nos seus espaços (passeios de charrete, oficinas infantis, canopy, experiências multimédia, concertos musicais, feiras temáticas, exposições, visitas guiadas, etc.). E ainda que deter dos mais belos palácios do mundo seja de grande incentivo, o facto é que em 2013 só o Parque e o Palácio da Pena receberam c. 787.000 visitas, sendo o monumento mais visitado do país, e no total a PSML recebeu 1.708.000 visitantes, 90% dos quais estrangeiros.

Fica a sugestão para um dia de verão: deixe-se surpreender pelo «único lugar do país em que a história se fez jardim» (Vergílio Ferreira).

Tânia Saraiva*

* Historiadora e crítica de arte, professora universitária

Sobre o autor

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