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Sintomas

No “NYT” de terça-feira, David Leonhardt dava conta de alguns factos assustadores: há uma área a norte da Gronelândia que não tem gelo, quando sempre o teve. A explicação é que a temperatura do ar é demasiado alta e tem estado demasiadas horas acima do ponto de congelação. Por cá, também continuam a aparecer sinais de anomalias no clima. Ontem à noite (escrevo na terça-feira), na Guarda, estavam 13 graus; para hoje de manhã estava prevista neve, mas não nevou. Chovia e, conforme a chuva caía, transformava-se quase de imediato em gelo, sintoma da rapidez do arrefecimento.

Não sabemos ainda se a chuva vem a tempo e em quantidade suficiente para que se possa declarar o fim da seca. Possivelmente não, que os campos se apresentam como estariam em julho de um ano normal e estamos já no último terço do inverno. Mais a sul, em Joanesburgo, onde agora é verão, há racionamento de água: 25 litros por pessoa e por dia. Num minuto de chuveiro, dizem, gasta-se mais do que isso. Mais lá para a frente, aqui, teremos o nosso próprio verão. Os relvados comprados pela Câmara Municipal vão exigir rega e haverá quem não prescinda do duche ou até de lavar o carro – sem falar das utilizações realmente indispensáveis da água. Convém mesmo que chova muito, ou que nos habituemos aos novos tempos.

Há outras alterações a que precisamos de nos habituar. Há empresas na nossa região a querer investir e a procurar trabalhadores sem os encontrar. No Algarve há falta de profissionais de hotelaria. Por todo o país faltam pasteleiros, mecânicos, profissionais de muitos ofícios. Isto deve-se à melhoria da confiança e ao retomar da economia, é verdade, mas também a outras razões, menos felizes.

Antes de mais, é isto ainda uma consequência dos muitos milhares de profissionais qualificados que foram para o estrangeiro nos piores anos da crise e que não regressaram ainda, se é que vão um dia fazê-lo. Depois, se a crise dá sinais de melhoria, continua a haver o vício dos salários baixos e pouco compensadores: quem quererá vir para aqui ganhar o salário mínimo? Finalmente é isto sintoma de um mal que se manifestou há muito tempo e que se vai revelando aos poucos: não há gente, a que há está a envelhecer e os jovens vão-se embora. Por aqui é pior e por isso são urgentes medidas com tanto impacto como os problemas que temos. Por exemplo, insisto, com um regime fiscal mais favorável para o interior e com o fim ou redução do custo das portagens.

Por: António Ferreira

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