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«Sinto-me desgastado, triste e traído pelos políticos desta cidade»

Cara a Cara – Entrevista: José Ambrósio

P – Acredita na continuidade da Delphi na Guarda?

R – Como cidadão desta terra tenho que acreditar que a Delphi continuará a laborar na Guarda. Deus queira que continue a ser uma empresa de excelência como tem sido até agora.

P – Como vê a gestão conjunta das fábricas da Guarda e Castelo Branco, por um gestor de Castelo Branco?

R – Só o tempo dirá se essa gestão será boa para a Guarda ou não.

P – A crise no sector automóvel é a única explicação para os despedimentos ou há outros factores?

R – A crise no sector automóvel foi uma base para muitos despedimentos. Não nos podemos esquecer que houve empresas que abusaram e aproveitaram essa crise para fazer despedimentos. No caso da Delphi da Guarda verificou-se uma quebra enorme de encomendas, o que levou a que tivessem que sair até ao final do ano 315 trabalhadores. É de lamentar que o sector automóvel não ultrapasse esta crise, mas infelizmente é assim.

P – Havia alternativas para evitar este desfecho? Quais?

R – Poderia haver, se tivesse havido mais ajuda do Governo. Não nos podemos esquecer que a administração da Delphi tinha anunciado os despedimentos por duas vezes, mas depois conseguiram arranjar produtos que vieram para a Guarda e as dispensas não se verificaram.

P – Na última Assembleia Municipal disse que «os políticos locais pouco ou nada fizeram». O que deveriam ter feito?

R – O senhor presidente da Câmara foi confrontado pelo Sindicato para ir a um plenário de trabalhadores para explicar o que é que a autarquia fez em relação à Delphi e esse convite foi declinado. Sabemos perfeitamente que se trata de uma Câmara socialista, e através do Governo poderiam ter feito muito. Poderiam ter pedido ajuda ao Governo, porque sabemos que no interior não há alternativas para absorver a mão-de-obra destes trabalhadores. Infelizmente foge tudo da Guarda e nada vem. Aliás, eu disse uma vez que o interior devia mudar de nome para “o estado dos pobres, dos esquecidos e dos desempregados”, enquanto o resto do país passaria a chamar “um país em desenvolvimento”. Numa Assembleia Municipal foi dito que o facto da Delphi ainda não ter fechado se devia à Câmara, e eu perguntei o que é que a Câmara fez para que os despedimentos não fossem efectuados, mas infelizmente não obtive resposta. Eu, como trabalhador daquela empresa, e os meus colegas gostaríamos de saber o que é que a Câmara da Guarda fez para que os despedimentos não se efectuassem.

P – Porque é que abandonou o sindicato?

R – Senti-me triste com toda esta situação, apesar de sair de cabeça erguida e com o sentimento de dever cumprido. O Sindicato fez tudo o que esteve ao seu alcance para que estes despedimentos não se efectuassem. A prova disso foi a ida ao Governo Civil, à Câmara Municipal, à Caritas, ao Bispo da Guarda, ao Instituto de Emprego e Formação Profissional e à Segurança Social para ver se se podia minimizar a situação destas pessoas. Mas hoje, sinto-me desgastado, triste e traído pelos políticos desta cidade.

José Ambrósio

«Sinto-me desgastado, triste e traído pelos
        políticos desta cidade»

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