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Sinos dobraram na Póvoa da Atalaia por Eugénio de Andrade

Município do Fundão esteve de luto durante dois dias em homenagem ao poeta falecido segunda-feira

Os sinos da igreja da Póvoa da Atalaia, no Fundão, dobraram segunda-feira de manhã para assinalar a morte de Eugénio de Andrade, nascido naquela aldeia a 19 de Janeiro de 1923. O poeta, considerado a «principal figura da terra», segundo o presidente da Junta de Freguesia, António Rodrigues, morreu no Porto no início da semana, numa altura em que está em preparação, no concelho do Fundão, uma exposição sobre a sua obra, com abertura prevista para o último trimestre do ano.

Paulo Fernandes, vereador da Cultura na Câmara do Fundão, exprimiu «uma profunda tristeza» pela morte de «uma das personalidades que mais longe levaram o nome do concelho». «Felizmente pudemos reconhecer a sua obra ainda em vida. E, apesar da sua saúde débil, Eugénio de Andrade acompanhava e colaborava com este nosso trabalho», acrescentou. Na Póvoa da Atalaia, junto à Casa da Eira, onde viveu a infância, um monumento evoca a relação do poeta com a aldeia e com a Beira Baixa, «relação que se reflecte profundamente na sua escrita», sublinhou o vereador. Na aldeia está também aberto ao público o Centro de Exposições Eugénio de Andrade, com duas mostras dedicadas à vida e obra do autor. «Uma delas foi preparada pelo próprio, de cariz mais biográfico, e outra nasceu dentro do contexto da Rota dos Escritores», recordou. Na cidade do Fundão, o pseudónimo do poeta (cujo nome era José Fontinhas) está igualmente perpetuado na biblioteca e numa das mais recentes avenidas da cidade, na qual os nomes das rotundas evocam as suas obras. «Terá evocações sempre presentes, para as gerações futuras», disse Paulo Fernandes, assegurando que a autarquia vai seguir «a mesma linha de actuação», também pela via de edições especiais relacionadas com a sua poesia.

O município do Fundão esteve de luto até ao dia do funeral, realizado terça-feira no Porto, e disponibilizou, na biblioteca municipal, um livro de condolências aos munícipes, bem como uma caixa de mensagens no Jardim do Lugar da Casa, situado junto à residência onde viveu o poeta na Póvoa da Atalaia. José Fontinhas, nome verdadeiro do autor de “O Sal da Língua”, nasceu a 19 de Janeiro de 1923 naquela freguesia do concelho do Fundão. A sua extensa poesia é fortemente marcada pela mãe – pessoa que mais o marcou em toda a sua vida – e pelos momentos passados na sua terra beirã durante a infância. «A minha ligação à infância é, sobretudo, uma ligação à minha mãe e à minha terra, porque, no fundo, vivemos um para o outro», escreveu um dia Eugénio de Andrade, que se mudou em 1932 para Lisboa com a mãe. Foi aí que José Fontinhas escreveu, em 1939, o seu primeiro poema, “Narciso”. Seguem-se “Pureza” (1942) e “Adolescente” (1945), mas é com “As Mãos e os Frutos”, em 1948, que Eugénio de Andrade alcança o sucesso e marca profundamente a poesia portuguesa. Depois disso, seguiu-se uma carreira vasta e rica em poesia, na prosa, ensaios, tradução e na antologia, para além da participação em muitas publicações literárias de renome como “Mundo Literário”, “Seara Nova” e “Vértice”.

Um sucesso que soube conciliar ao mesmo tempo que exercia as funções de inspector administrativo do Ministério da Saúde até 1983. Devido a esse cargo, Eugénio de Andrade mudou-se em 1950 para o Porto, a sua cidade adoptiva desde então. Foi galardoado com o Prémio Camões 2001 e é actualmente um dos poetas portugueses mais divulgados no mundo, já que a sua obra poética e de prosa está traduzida e editada na Alemanha, China, México, EUA, Espanha, Rússia, Venezuela, México, Jugoslávia, Astúrias, França, Itália e Inglaterra.

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