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Sindicato dos Trabalhadores dos Correios contra transferência de serviços para Juntas de Freguesia

CTT dizem que a medida visa «prestar um melhor serviço aos clientes» e garantem que não vai haver despedimentos

O delegado distrital da Guarda do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT) está «revoltado» com a decisão da administração dos CTT – Correios de Portugal de transferir os serviços de 400 estações de correios para outras tantas Juntas de Freguesia espalhadas por todo o país. Dentro da nova estratégia para a rede de lojas da empresa, os CTT e a Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) assinaram na última terça-feira um protocolo de forma a oficializar a transferência dos serviços. Contrariamente ao que a administração da empresa garante, o sindicato tem dúvidas de que nenhuma estação de correios venha encerrar e que nenhum trabalhador será despedido.

Num comunicado enviado à Agência Lusa, o Conselho de Administração (CA) dos CTT garante que não tenciona despedir qualquer funcionário e que não vão encerrar metade das estações de correio, já que, para a empresa, transferir o serviço para as Juntas de Freguesia não significa encerrá-las. Ainda que o espaço a ocupar pela nova localização e os funcionários não pertençam aos Correios. Esta versão não convence Zulmiro Almeida, delegado distrital do SNTCT, que confessa «não acreditar» que nenhuma estação do distrito da Guarda seja encerrada, chegando mesmo a afirmar que a empresa está a «querer desmentir o indesmentível». Por outro lado, «é no mínimo estranho» que se afirme que nenhum trabalhador vai ser despedido se os mesmos irão deixar de exercer as suas funções habituais. Desta forma, «os primeiros afectados serão os trabalhadores com contrato a prazo», uma situação «grave» tal como o facto de estar em causa «a prestação de um serviço público de qualidade», diz. Ao longo do distrito da Guarda existem actualmente algumas freguesias em que os serviços de distribuição e de atendimento são assegurados pelo carteiro, como é o caso dos Trinta, Lageosa do Mondego, Escalhão, e Celorico-Gare, entre outros. Mesmo nesta situação, o sindicato «prefere assim em vez da transferência deste serviço para as Juntas», já que estas «não vão assegurar o mesmo tipo de serviço», caso, por exemplo, dos Certificados de Aforro, indica o delegado distrital do SNTCT.

Também a postura da Associação Nacional de Freguesias é criticada, pois Zulmiro Almeida não compreende como é que a ANAFRE vai assinar este protocolo «sem falar primeiro com todas as Juntas», estranha. O sindicalista reforça que só os correios têm condições para «prestar um serviço público e universal», afirmando não querer «ouvir falar» em eventuais parcerias com algumas companhias de seguros para transferir os serviços de outras estações de correios. Outro boato em que Almeida «não quer acreditar» é de que apenas ficariam cinco estações de correios a funcionar no distrito: Guarda, Guarda-Gare, Celorico da Beira, Gouveia e Seia. Zulmiro Almeida aponta ainda o dedo ao CA dos CTT por causa da estrutura sindical de que faz parte estar a ser «posta de lado» em todo este processo, uma situação que o deixa «revoltado». Confrontado com as críticas do SNTCT, Gonçalves da Cunha, director de comunicação dos CTT, desdramatiza e diz que os utentes até vão sair beneficiados, já que a «maioria das estações estavam abertas apenas duas ou três horas por dia, enquanto as sedes das Juntas de Freguesia vão estar abertas muito mais horas, permitindo assim um horário mais alargado». Dentro desta lógica, o acordo estabelecido com a ANAFRE «corresponde a uma necessidade de alargar e prestar um melhor serviço aos clientes». Os CTT vão coordenar a formação dos funcionários, bem como a ligação dos sistemas de informação e identificação dos serviços. Quanto ao futuro dos trabalhadores que exercem funções nas estações que vão ser transferidas, Gonçalves da Cunha garante que «todas as pessoas que ficarem libertas das suas funções devido a esta alteração serão transferidas para outros serviços». De resto, esta não é uma situação nova, já que, segundo Armando Vieira, presidente da ANAFRE, já existem 450 sedes de Juntas de Freguesia onde funcionam serviços dos correios e em relação às quais «as populações se sentem satisfeitas», disse em declarações à Lusa.

Ricardo Cordeiro

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