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Sindicato alerta para possível «encerramento camuflado» da Delphi na Guarda

Em contrapartida, produção e emprego na unidade de Castelo Branco tem vindo a crescer

A situação precária em que se encontra a Delphi está a preocupar trabalhadores e sindicalistas, apesar da empresa garantir que se vai manter na Guarda. José António Simões, secretário-geral do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA), esteve na fábrica da Guarda-gare na passada terça-feira, onde reuniu com dirigentes sindicais e trabalhadores, e saiu bastante apreensivo com o futuro da unidade.

«É a maior empresa do distrito, é uma unidade saudável e boa, o que continua a ser, mas com mau ambiente», disse a “O Interior”, admitindo ter ficado «preocupado» com o que viu e ouviu nas instalações da fábrica da multinacional de cablagens. «Muitos trabalhadores, na maioria mulheres, fizeram-me muitas perguntas de desconfiança e nesse sentido torna-se preocupante», esclarece. Entre outras acusações, o responsável sindical adianta que os trabalhadores se queixam de «ameaças», «perseguição» e de «pressão» por parte das chefias. Isto porque, segundo o dirigente do SIMA, a empresa está a impor aos funcionários um contrato de flexibilização «sem cumprir as cláusulas». José António Simões garante que, sujeitos a «uma pressão muito grande» eles assinam documentos «sem saberem o que estão a assinar e sem receberem cópia», refere. «E quando os trabalhadores não concordam, são ameaçados de despedimento ou de mudança de posto de trabalho», adianta, enquanto Joaquim Rocha, dirigente do SIMA na Delphi, refere que essa situação está a acontecer «diariamente».

Apesar de tudo, a empresa terá garantido ao sindicato que irá permanecer na Guarda. No entanto, a questão que se levanta para o secretário-geral é «até quando?». Isto porque o administrador da Delphi confirmou não haver previsão de novos contratos para os tempos mais próximos, «numa altura em que dois dos mais importantes, que têm mantido a empresa a funcionar, estão a chegar ao fim», revela o sindicalista. Joaquim Rocha refere-se às encomendas da Renault e da Peugeot, parte das quais já estarão a ser feitas em Marrocos. «Se não há novas produções e os contratos estão a acabar este ano, a fábrica da Guarda tem um problema de sobrevivência para resolver», avisa. Em contrapartida, o número de trabalhadores está a aumentar na unidade de Castelo Branco, cuja produção tem vindo a crescer no último ano, desde que assumiu as encomendas da Opel de Saragoça. Mas o SIMA também considera «muito preocupante» indícios como a redução gradual do número de efectivos na Delphi da Guarda e o facto da contratação de trabalhadores a prazo ser feita através de empresas subcontratadas. «Essa diminuição é alarmante, porque foi o que aconteceu nas outras empresas do grupo que encerraram em Portugal», recorda José Luís Besteiro. O dirigente sindical desmente ainda que a empresa tenha actualmente cerca de 1.300 trabalhadores: «Isso não corresponde à verdade, pois só cerca de 900 estão efectivos», sublinha. Já o secretário-geral do SIMA vai mais longe e não afasta a hipótese de se estar perante «um encerramento camuflado» da fábrica, pois «as pessoas nem se apercebem do número de efectivos que vai baixando todas as semanas ou todos os meses».

Tânia Santos

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