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Ser pai também é isto

Vidas

Todos os dias, de uma forma ou de outra, somos confrontados com a MORTE.

E é tão frequente que muitas vezes nos tornamos insensíveis às notícias. Mas outras vezes não.

Fiquei muito impressionada com a morte do cantor/ator Angélico, que fez parte do grupo D´zrt. Claro que é mais um número das terríveis estatísticas de mortos nas estradas. Mas este “número” nós conhecíamos, víamo-lo nas revistas, na televisão, era um rapaz bonito, 28 anos, e tinha cara de boa pessoa. A brutalidade do acidente e as suas consequências deixaram-me com um nó no estômago e dei por mim a desejar que nada daquilo tivesse acontecido. A imaginar a dor dos pais daqueles miúdos e, claro, é inevitável transpormos estes pensamentos para a nossa vida pessoal “E se fosse com um dos nossos?!”

Quando somos pais esses pensamentos são recorrentes, e dependendo da faixa etária das nossas crias, assim são as preocupações: quando são muito bebés é o medo da morte súbita e lá vamos nós sentir a respiração deles enquanto dormem; se se engasgam, se estão muito tapados e sufocam… Depois, quando começam a andar, se caem e batem com a cabeça, se se entalam, se se cortam…mais tarde vem o medo de os perdermos, dos raptos, dos atropelamentos e afogamentos, crescem e é o medo das companhias, as drogas, o álcool, as viagens, as motas, os carros, as doenças…

Ser pai também é isto, viver com o coração nas mãos, e rezar para que a vida não nos finte, desejar para que se cumpra a lei natural das coisas e que os pais partam sempre primeiro que os filhos.

Por mais que não queiramos, estes pensamentos vêm ter connosco e duplicam ou triplicam consoante o número de filhos.

Claro que há cuidados que podemos ter, perigos a evitar, mas não podemos ser o cinto de segurança dos nossos filhos em todas as situações e para o resto das suas vidas, simplesmente porque é impossível! E é essa impotência que é tão angustiante.

A pena, não é um sentimento muito nobre, mas é isso que hoje sinto, uma profunda e sentida pena dos que partiram e dos que ficaram a braços com a dor e a saudade.

Por: Carla Freire

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