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Ser Digital

Tenho há anos a ambição de conseguir pôr alguma ordem na minha biblioteca. Tenho milhares de livros espalhados por caixotes, estantes, mesinhas de cabeceira, móveis de casa de banho, mesas de várias divisões. Da minha casa e da casa de amigos meus. Com o tempo, começou a mostrar-se importante organizar tudo isso. É que, como é sabido, a informação sem tratamento de nada serve. Não adianta saber que certo facto ou certa ideia estão em determinado livro se não souber onde está, ou sequer se o temos. É que, com o tempo, acabamos por confundir as existências da biblioteca com os livros que desejávamos ter comprado e não comprámos. Ou então o contrário, o que explica os muitos livros repetidos que tenho.

Levou-me esta necessidade a procurar na internet um programa de catalogação de livros que pudesse ajudar-me. Descobri uma coisa chamada “Bookpedia” (para Macintosh), pelo preço de pouco mais de dez euros. Faz o seguinte: introduzo o ISBN (uma série de dígitos que normalmente se encontra na contracapa juntamente com o código de barras) e o programa vai à internet procurar nos sites que traz pré-definidos, entre os quais a Amazon e algumas das mais importantes bibliotecas mundiais, a informação mais importante correspondente a esse livro, incluindo o número de páginas, o preço e uma fotografia da capa. Mais, ao aproximar-se o código de barras da lente da webcam, esta fica transformada num leitor de código de barras e o programa vai buscar à internet automaticamente a respectiva informação. A vantagem é evidente, demorando muito menos tempo a fazer-se a catalogação da biblioteca.

Descobri ainda que há várias bibliotecas nacionais a disponibilizarem na internet informação acerca dos seus livros, podendo o tal programa ir buscar essa informação (desde que aquelas obedeçam ao protocolo z39.50). Entre estas estão a Biblioteca Nacional, algumas bibliotecas municipais e algumas bibliotecas de escolas superiores e universidades (não encontrei lá nem a UBI nem o IPG). Para uma lista completa, há que ir a http://targettest.indexdata.com/.

Parecia tudo muito fácil a partir daqui e a coisa começou por correr muito bem. Todas as edições estrangeiras eram imediatamente reconhecidas, mesmo as compradas em saldo na Feira da Ladra. Bastava introduzir o ISBN, à falta de código de barras, e toda a informação aparecia em segundos. As edições nacionais foram outra história. Se é verdade que estava informação na Biblioteca Nacional sobre “Os Criadores – Uma História dos Heróis da Imaginação”, de Daniel Boorstin, já nada havia sobre “Diplomacia”, de Henry Kissinger, ou “Da Democracia na América”, de Tocqueville. Estava lá “Mil Anos de Felicidade – Uma História do Paraíso”, de Jean Delumeau, assim como, já agora, “The History of Hell”, de Alice Turner, mas faltava “Breve História do Progresso”, de Ronald Wright.

E assim, numa pequena amostra, concluí que a maior parte dos livros publicados nos últimos anos em Portugal, embora estejam classificados em ISBN, estão ausentes das nossas bases de dados. Ou então esses dados não estão a ser introduzidos a uma velocidade aceitável, a suficiente para conferir à presença portuguesa na internet alguma utilidade. É apenas mais um dos nossos muitos atrasos.

Sugestões

Um livro: O Poder e os Idealistas (Paul Berman, Aletheia Editores 2007). Uma história dos idealistas do Maio de 68 desde essa data e até ao presente. Desde as barricadas e os cocktails Molotov e até à tomada do poder.

Uma série de televisão: Anatomia de Grey (já disponíveis em DVD as duas primeiras épocas). Viciante, com brilhantes interpretações e uma escrita notável, é mais uma série a juntar a esta verdadeira idade de ouro, segundo O Público, da televisão.

Por: António Ferreira

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