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Sentir e calar

Bilhete Postal

Imagina que alguém faz coisas que abominas, mas que é teu amigo. Alguém te põe furioso e é das tuas relações. Imagina que vais no carro de uma pessoa do círculo restrito de amigos e ele conduz à beira da insurreição, perto do abismo. Imagina que uma amiga escreve loucuras sobre gente que não conheces, mas não te agrada o que dele diz. Agora ver os teus colegas a fazer continuamente os gestos que lhes criticas, a tomar sempre a mesma posição que não gostas. E se fores chefe e os teus empregados fazem o avesso do pedido? E no restaurante daquele amigo soube-te péssima a comida. E a desobediência dos que te mandam obedecer? Tudo isto se sente dentro, tudo isto se leva para casa e não se lava na rua. E este sentir violento que nos faz responder torto, nos faz engolir o “elefante” inteiro, nos faz tossir e lançar o Gregório na passagem, é o quê? É o mau perder? É o encaixar o Rossio na Betesga? A verdade é que isto é dor e tem a ver com as sensações que se calam para evitar males maiores. Só que conclui que não são. O mal maior é mesmo calar e sentir o aperto na garganta e a dor no peito. A desilusão dói mais quando está calada.

Por: Diogo Cabrita

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