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Senhora das Dores

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Em 15 de Setembro venera-se Nossa Senhora ou a Virgem Maria. O culto à Mater Dolorosa iniciou-se em 1221, no Mosteiro de Schönau, na Germânia. Deve o seu nome às Sete Dores da Virgem Maria. E é desta ideia triste da veneração pela negativa que vos falo hoje. Portugal é um dos países de maior culto dos múltiplos nomes da dolorosa mater. Por todo o Portugal os nomes sucedem-se nas Angustias, nas Dores, nos Prantos, nas Saudades, nas Lágrimas e para todas há peregrinos que choram e se arrastam. E todas são uma só: a Virgem Maria.

Já esclareci noutros artigos como fascina com a Pietà, e me indigna a ideia dos filhos partirem antes dos pais. Nesta dicotomia há um ícone que revela a suprema dor da mãe despojada do filho e há a injustiça da morte deste homem, para mais do crime de convicções. A pietà repetiu-se no Vietname, na praça Tiananmen na China, em Dachau, nas mães da Plaza de Mayo na Argentina, no Uganda de Idi Amin Dada, no Cambodja dos Khmaey Krahome, e tantos outros lugares onde os fanáticos e prepotentes – sempre gente de aspecto normal – disputaram o direito divino. A Senhora das dores é este culto em pranto, esta veneração dos sete sofrimentos de Maria, uma enorme carga de emoção negativa que em tese seria redentora e purificadora no fim.

Não encaixo neste perfil. A minha fé é de sorrisos, é de encontro com a resistência que surge no primeiro sorriso depois da perca. Claro que a saudade permanece e constrói-se dentro das almas penadas. Claro que o luto marca a falta depois da vida comum. Mas nós devemos ser l’avenir, devemos estar a olhar o amanhã e esse por maioria de razão tem que se construir das primeiras flores que nascem na floresta ardida. Não vou a romarias e procissões e esse é mesmo o maior obstáculo da minha relação com a Igreja que entendo um culto íntimo e nunca exposto. Sou da reflexão e nunca da gritaria, sou da Igreja que entende o amor e o sexo como espaços de respeito e de fantasia e por isso de vida. Não sou de dores, de vestidos negros, de angústias e de faces taciturnas. Prefiro as Vanessas, as Deborase as Lolas, às Dores, às Lamúrias e às Rosários. Maria de Jesus para mim é alegre, cantava a lavar a roupa e amava literária e fisicamente José. Chorou rios de dor em Tiananmen, em Dachau, na Plaza de Mayo, mas canta com os filhos que restam esperando que Deus a leve antes deles.

Por: Diogo Cabrita

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