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Sempre os Mesmos

Nos últimos 35 anos o Estado foi três vezes à bancarrota. À frente dos destinos do país esteve sempre gente saída do PS, do PSD e do CDS ou aí chegada vinda e outros lugares. Quando mandaram fizeram todos o mesmo e com os mesmos meios, procurando através de endividamento pagar obras de fachada, dar emprego aos correligionários e garantir o seu lugar dentro do “sistema”. Lateralmente, como objectivo secundário, foram falando vagamente de reformas estruturais que nunca concluíram enquanto estiveram no poder e não deixaram concluir quando estiveram na oposição.

Dos empregos políticos no governo e administração central ou autarquias essa gente ia, nesses mesmos 35 anos, rodando entre os bancos, as grandes construtoras civis e a administração de empresas públicas, para depois, na primeira oportunidade, alcançado algum estatuto, regressarem ao Estado para uma posição mais elevada.

Não são muitos, provavelmente apenas algumas centenas, mas são sempre os mesmos e conhecem-se todos uns aos outros. Tiveram a mesma escola, partilham vícios e restaurantes, têm os mesmos tiques, o mesmo vocabulário ridiculamente pomposo (“deixe-me que lhe diga, senhor deputado”), e imitam a colocação de voz, os fatos, as gravatas e os gostos uns dos outros. Nunca leram nada senão resumos, acreditam que a política é a arte da resposta pronta e do sound byte (sem perceberem muito bem o que isso é) e, quando chegam ao poder, disfarçam a sua incompetência contratando inúmeros assessores a quem pagam principescamente para estes fazerem o trabalho que os camaradas do partido colocados à força nos empregos do Estado não sabem fazer.

Insisto: são sempre os mesmos, cometem sempre os mesmos erros, conhecem-se todos uns aos outros, estão no poder por eles e não por nós e levaram-nos à bancarrota três vezes nos últimos 35 anos.

Ao fim de tanto tempo começamos a ter a obrigação de os conhecer a todos. Já os vimos em tudo o que é sítio, a repartir tempo de televisão e espaço nos jornais. Temos também obrigação de lhes conhecer os truques e aquilo que eles acham serem ideias mas não passam de pobres e ocos lugares comuns.

Nas próximas eleições autárquicas deveríamos ter em atenção esses candidatos do “sistema”, sobretudo aqueles que vêm de autarquias que endividaram até aos limites do suportável, ou muito para além disso, e se propõem passar para outra, em geral ao lado, onde irão certamente fazer o mesmo. Os exemplos abundam e vão de Norte a Sul. Há um caso em especial a seguir com particular atenção: o insuportável Menezes sai de Gaia e quer o Porto; Rui Moreira, vindo de fora do sistema, propõe-se fazer-lhe frente. Do resultado desta eleição, e de muitas outras semelhantes, iremos ver se o eleitorado já percebeu a urgência de substituir a classe política que nos levou a este estado por outra que ofereça alguma esperança.

Por: António Ferreira

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