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Sempre a Abril

Observatório de Ornitorrincos

O mês de Abril encontra-se separado do mês de abril por três ordens de razões: a inicial maiúscula, o Oceano Atlântico e a minha rabugice. É verdade que cedi desde cedo à tentação (na verdade, a frase podia terminar aqui que seria fidedigna em qualquer circunstância e assunto) de escrever os dias da semana com letra minúscula, capaz de transformar a primaz Segunda-feira numa qualquer segunda de segunda. A excepção para cumprir a regra mantive-a apenas para os Domingos, não por ser dia de algum senhor, mas por ainda permanecer no meu imaginário, apesar dos saturninos calendários modernos, como o dia do Futebol.

Em Abril, é sabido que decorrerão sempre três acontecimentos: dez centos de pluviosidade, as festividades do golpe de Estado e a Páscoa. Os leitores mais conhecedores do calendário litúrgico poderiam protestar com a inexactidão da terceira parcela da afirmação, afirmando que em alguns anos a Crucificação de Cristo é assinalada no calendário de Março, mas a intersecção entre os milhões de leitores do Livro das Horas e os três que ainda restam ao Observatório de Ornitorrincos é um conjunto vazio. Aliás, esta última expressão é muitas vezes usada para, numa bela analogia da matemática, descrever com acerto os próprios textos desta coluna.

Julgo, conquanto o meu predicado de descrente em divindades e ressurreições, que a Páscoa merece ser um Domingo honorário de Abril, mesmo quando a data do telemóvel indicar que se está em Março, assim como na Rússia, num centenário que este ano se lamenta, a Revolução de Outubro aconteceu em Novembro. (Um recado aos leitores: não vale a pena escrever-me um mail a protestar contra esta ideia. A Páscoa marçana só volta a acontecer em 2024, Mãe.)

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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