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Sem trabalho e sem futuro

Editorial

1. A taxa de desemprego continua a subir a um ritmo dramático. Se há um ano era um problema, hoje é uma tragédia nacional. Uma fatalidade que vai continuar a crescer, pois todas as previsões apontam para o aumento do desemprego pelo menos durante os próximos dois anos.

Um ano depois da assinatura da ajuda externa a Portugal os dados do INE revelam que há 819 mil pessoas fora do mercado de trabalho, mais 130 mil que em janeiro de 2011 – mas considerando todos aqueles que já “desistiram” de arranjar trabalho, os analistas falam em cerca de um milhão e cem mil pessoas sem ocupação. A agravar a situação, quase metade dessas pessoas são desempregados de longa duração. E 23 por cento dos jovens com menos de 25 anos não têm trabalho, nem expetativas de vida.

Por outro lado, 67 por cento dos jovens a frequentar o ensino superior tem no Estado o seu primeiro objetivo de profissionalização. Ou seja, a maioria dos jovens, perante a crise e as dificuldades de conseguir trabalho, sonha com um lugar na função pública e não tem no horizonte qualquer iniciativa de empreendedorismo ou auto-emprego.

De resto, e muito para além do que disse Passos Coelho sobre a emigração, só no ano passado (2011) cerca de 100 mil portugueses partiram à procura de melhor vida (num fluxo iniciado muito antes de Passos Coelho ter chegado ao governo). E a tendência é de crescimento dessa diáspora enquanto o primeiro-ministro, em vez de procurar soluções e definir uma estratégia, se limita a constatar o óbvio: que o país já não consegue criar trabalho para todos. Foi também assim nos anos 60 e 70. E como nesses tempos, os portugueses partem muitas vezes sem saberem o que os espera. Se há 50 anos partiam indocumentados, a “salto, sem formação, para fugirem à miséria, à procura do que fosse para matar a fome; hoje, partem para fugir à pobreza, com formação (nem sempre), com direitos, mas com a mesma disponibilidade de fazerem de tudo para sobreviverem.

2. A análise comparativa à evolução do desemprego na Guarda e Covilhã, realizada por Pires Manso, para o Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social, da UBI, e que oportunamente aqui apresentámos, mostra que entre janeiro de 2005 e janeiro de 2012 o desemprego na Covilhã baixou 1,1 por cento, passando de 3.864 desempregados para 3.562 – em contraciclo. Pelo contrário, na Guarda, até pelo encerramento da Delphi, passou de 1.663 inscritos no Centro de Emprego em janeiro de 2005, para 2.575 em janeiro de 2012.

Mas o que se nota nas nossas cidades e vilas… é muito mais intenso do que os próprios números oficiais: há cada vez menos pessoas nas ruas, nas lojas, nos cafés, no campo… A desertificação é cada vez mais evidente. O êxodo rural, das aldeias que morrem, das vilas em depressão ou das cidades que dependem de uma suposta vida ativa, constituída por serviços públicos em vias de extinção e por funcionários públicos cujo lugar será posto em causa um dia destes. A Guarda é disso um exemplo maior. A continuar neste estado endémico, depressivo e agonizante, com a fuga dos seus filhos, que cidade teremos nos próximos anos? Que serviços serão encerrados? Que profissionais poderão continuar a trabalhar por cá? Ao que parece ninguém está muito preocupado com isso. Ou pelo menos ninguém com responsabilidades – basta ouvir os estridentes discursos dos nossos dirigentes que parecem muito satisfeitos com aquilo que têm, que temos, e justificam com facilidade a decadência da vida económica e social da cidade. A crise serve para tudo.

Luis Baptista-Martins

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