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Selber fecha portas em Belmonte

Empresa de confecções deixa 50 trabalhadoras no desemprego numa altura em que a “Gil e Almeida”, no Tortosendo, também começa a dar sinais de fraqueza

A Cova da Beira voltou a ser flagelada, na semana passada, pelo encerramento de mais uma empresa de confecções. A Selber laborava há vários anos em Belmonte, onde deixou agora cerca de 50 trabalhadores no desemprego.

A situação começou a verificar-se no início de Outubro, quando os administradores solicitaram às funcionárias que trabalhassem nos primeiros dias do mês para terminarem uma encomenda. Depois disso, mandaram-nas para férias prometendo que lhes pagariam o salário referente a Outubro quando regressassem. Algo que não aconteceu. Uma semana depois de estarem de férias, as trabalhadoras receberam uma carta dando conta do pedido de insolvência que a administração tinha feito no Tribunal da Covilhã. Luís Garra, presidente do Sindicato Têxtil da Beira Baixa (STBB), define esta situação como «vergonhosa», já que «obrigaram as pessoas a tirar o passe para um mês quando na verdade só trabalharam dois ou três dias». O sindicalista diz mesmo que a atitude dos administradores da Selber foi «indecente do ponto de vista ético», pois deixaram as funcionárias sem saber qual a sua verdadeira situação. Do tribunal aguarda-se a nomeação de um gestor judicial que tome as rédeas deste processo. Já as operárias continuam à espera de saberem como e quando poderão aceder à única solução que lhes resta: o subsídio de desemprego.

Este é mais um desfecho que vem engrossar a lista das empresas de confecções que desde 2001 têm encerrado na região. Luís Garra contabiliza quase 40, que representam cerca de cinco mil postos de trabalho «estragados». A estes números desoladores pode vir a juntar-se mais uma empresa do ramo, sediada no Tortosendo. Apesar dos problemas já estarem ultrapassados, de acordo com o sindicalista, a “Gil e Almeida” viveu momentos de crise na semana passada. Os atrasos dos salários de Setembro levaram a maioria das 64 trabalhadoras a fazer greve durante dois dias, mas a prestação em falta foi paga e a laboração foi retomada esta semana. Luís Garra explica que o atraso no pagamento de parte dos ordenados «é habitual» naquela firma, mas «tem sido sempre resolvido». Todavia, adverte que se as trabalhadoras chegaram àquele ponto «é porque tinham esgotado a paciência». E acrescenta: «Foi mais uma que se evitou, mas não sei até quando. O jarro vai tantas vezes à fonte que um dia deixa lá a asa», prevê o sindicalista.

Fiper terá um interessado

Num ambiente cada vez mais pessimista quanto ao futuro das confecções na região, o presidente do STBB está céptico em relação a algumas declarações veiculadas. É o caso da notícia publicada na última terça-feira pela “Kaminhos” acerca da Fiper – Fiação S. Pedro, sediada no Teixoso, que encerrou há cerca de dois meses. A assembleia de credores está marcada para o próximo dia 24, mas segundo aquele órgão de comunicação “on-line” deve ser adiada para Novembro, a pedido do advogado de um empresário alegadamente interessado em adquirir a fábrica e manter os cerca de 80 trabalhadores. Segundo o mesmo órgão, o processo de insolvência entregue durante o Verão no Tribunal da Covilhã «já apontava o empresário como eventual interessado», mas Luís Garra diz desconhecer tal cenário, garantindo apenas que formalmente «não conhecemos nenhuma proposta». E afirma que «tudo isto é muito estranho», pois se já havia um interessado na Fiper «porque não tomaram medidas para impedir o despedimento? Porque não apresentaram a proposta antes», questiona o sindicalista, desconfiando da veracidade das declarações.

Têxteis nacionais à beira do abismo

No mesmo dia a “Kaminhos” publica uma notícia sobre a condenação dos têxteis portugueses ao encerramento, prevista por Domingos Miranda, empresário e presidente do conselho fiscal da Associação Nacional dos Jovens Empresários (ANJE). Em declarações àquela revista, este dirigente defende que a indústria têxtil portuguesa «será transferida para países competitivos» como a China, onde a mão-de-obra é intensiva e «sem hipóteses de concorrência». Em Portugal, diz, os têxteis ficarão reduzidos « à concepção, distribuição e comercialização».

Para Luís Garra, este panorama não o espanta dado que «as empresas sabiam há dez anos o que ia acontecer e agora não há desculpas». O sindicalista frisa que aquando da assinatura dos acordos comerciais, que levavam à liberalização, os empresários «sabiam o que tinham a fazer» para evitarem os actuais cenários. O presidente do STBB acrescenta ainda que há um conjunto de empresas que têm capacidade para resistir, sobretudo as que apostaram numa marca própria, na organização e tecnologia. Outras há que «não vão aguentar», lamenta Luís Garra, atirando culpas também ao Orçamento de Estado que «é restritivo ao desenvolvimento» e à economia que «não anda». O dirigente sindical diz ainda que o trabalho de proximidade «para acudir a quem ainda pode ser salvo, não está a aparecer», lastima.

Rita Lopes

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