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“Seis graus de separação”

mitocôndrias e quasares

No final dos anos 60, o psicólogo norte-americano Stanley Milgran enviou um conjunto de pacotes a cidadãos do Nebraska e Kansas, com instruções para os destinatários os reenviarem a conhecidos seus com o objectivo final de os fazer chegar a uma dada pessoa no Massachusetts, com a qual não tinham qualquer relação. Os seus resultados foram surpreendentes: os pacotes atravessaram os Estados Unidos e chegaram ao destino através destas cadeias, em média, ao fim de cinco passos! Realizando correcções estatísticas (houve pacotes que nunca chegaram ao destino), a conclusão de Milgram foi que o comprimento médio de uma cadeia de conhecimentos que leva de uma pessoa a qualquer outra é seis. Ou seja, qualquer pessoa está separada de outra qualquer por seis apertos de mão — «seis graus de separação».

Desta forma, o leitor pode estar a seis passos de qualquer pessoa, no sentido em que conhece alguém, que conhece alguém… que conhece essa pessoa. Surgiu assim pela primeira vez o conceito de “pequenos mundos”.

O conceito “seis graus de separação”, apesar de ser um estudo empírico, ganhou muitos adeptos, dando nome a uma peça de teatro de 1990 do dramaturgo americano John Guare e ao filme de 1993 de Fred Schepisi.

Esta ideia ganhou uma outra dinâmica com a utilização da Internet. Actuando com uma ferramenta, a Internet é suporte para vasto conjunto de sítios e aplicações de Internet destinadas incrementar as dinâmicas inter-pessoais, criando-se desta forma uma nova rede de actores sociais assente num mundo virtual.

Mais tarde, a ideia dos seis graus de liberdade foi alvo de tratamento matemático, o que conduziu a um refinamento do conceito. O que se pretendia saber era o caminho mais curto de um ponto ao outro. Para realizar este estudo socorreram-se do conceito de grafo, introduzido pelo matemático suíço Leonhard Euler no século XVIII.

A teoria de grafos é o estudo sistemático das propriedades de grafos; permite retirar conclusões por vezes surpreendentes, entre as quais que o problema dos «seis graus de separação» não é trivial. Pensemos no grafo das relações de conhecimento entre pessoas. Uma abordagem ingénua poderia colocar a questão da seguinte forma: cada pessoa no mundo conhece, digamos, cem outras. Assim, ao fim de seis interações, o número de conhecimentos cresceu exponencialmente para 1012, o que é mais de cem vezes superior à população mundial. Não é, pois, de espantar que existam apenas seis graus de separação!

Esta matematização do conceito, que à primeira vista não tem aplicações práticas, pode ser fundamental uma vez que as informações obtidas pelo estudo dos pequenos mundos poderão ajudar no planeamento de campanhas de prevenção da Sida e de doenças sexualmente transmissíveis.

Já sabe, quando sonhar em encontrar o príncipe perfeito lembre-se que está a apenas cinco passos dele…

Por: António Costa

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