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Seia e Covilhã desavindas por causa da Torre

Câmara senense acusa vizinha de «tentativa de usurpação» do ponto mais alto do continente

A Torre está no centro de uma polémica entre os municípios da Covilhã e Seia. Tudo por causa da recente assinatura de um acordo de geminação entre a “cidade neve” e a vila da Madalena, na ilha do Pico (Açores), com o argumento de ambas estarem ligadas aos dois pontos mais altos de Portugal. Nada mais falso, acusa a Câmara de Seia, que tenciona comunicar à congénere açoriana o «equívoco» e protestar contra mais uma «tentativa de usurpação» por parte da Covilhã de uma área que é parte integrante do concelho que também se intitula “Porta da Estrela”.

O assunto agitou na semana passada a última reunião do executivo senense e gerou a unanimidade quanto ao caminho a seguir. O vereador do PSD, Fernando Beco, foi o primeiro a propor um protesto formal junto da Câmara da Covilhã e, sem contemplações, considerou que «já chega de provocações», acusando o município do outro lado da serra de «tentativa de usurpação» da zona da Torre. Eduardo Brito, presidente da Câmara, concordou e sugeriu que também a Câmara da Madalena fosse informada do lapso, porque «não se geminou com o município mais alto, mas sim com o segundo». O edil anunciou ainda que a autarquia está a ultimar a colocação de placas sinaléticas que indicarão os limites do concelho de Seia no maciço central, área partilhada com os municípios de Manteigas e Covilhã. «Temos que acabar de uma vez por todas com estes “enganos”, porque o local onde a Torre foi construída é parte integrante do nosso concelho», disse,

sustentando que quem tiver dúvidas pode consultar o livro “Seia – Tecto de Portugal”, recentemente editado pela Câmara: «É a prova mais evidente de que somos o concelho mais alto do continente», garante.

Quem ficou chocado com estas posições foi o presidente em exercício da Câmara da Covilhã. Para Alçada Rosa, que assinou o acordo de geminação, tais declarações são de «um ridículo atroz e uma parvoíce», uma vez que, à semelhança da Serra da Estrela, também na ilha açoreana há três autarquias com jurisdição sobre o Pico. «A posição da Câmara de Seia não é para levar a sério e não tem qualquer espécie de importância. É a mesma coisa que estar a discutir o sexo dos anjos», retorquiu o edil. No entanto, o sítio da Internet da Associação dos Municípios de Montanha (www.anmp.pt), de que fazem parte ambos os concelhos, reitera o engano e refere que o ponto mais alto da Covilhã situa-se a 1.993 metros de altitude, enquanto o de Seia está a 1.991 metros acima do nível do mar. Dois metros que fazem toda a diferença e dão à Covilhã o hipotético título de “município mais alto de Portugal”. Recorde-se que o Pico é o ponto mais alto de Portugal, com 2.351 metros de altitude, enquanto a Torre é o local mais alto do continente, estando 2.000 metros acima do nível do mar devido à construção de duas torres de radares da Força Aérea, actualmente desactivados.

Luis Martins

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