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Seia à míngua pela segunda vez

Consumo de água condicionado no concelho e à espera das conclusões de análises técnicas do Inag

A água continuava imprópria para consumo ao princípio desta semana no concelho de Seia. Segundo fonte camarária, o abastecimento foi reposto na sexta-feira mas o consumo mantém-se condicionado enquanto não forem conhecidos os resultados das análises efectuadas nesse dia por técnicos do Instituto da Água (Inag). A recomendação de não utilizar a água para beber por a mesma «não oferecer garantias de qualidade» ter-se-á mantido até ontem, altura em que os técnicos da autarquia esperavam a normalização do serviço e as conclusões dos testes do Inag. A situação tem sido atenuada através do recurso aos diversos fontanários do concelho, cuja água é de qualidade.

A Câmara de Seia foi na semana passada forçada a interromper o fornecimento de água após as chuvas torrenciais verificadas ao longo do dia 30 de Setembro terem provocado o arrastamento de resíduos dos fogos florestais para as barragens do rio Alva. Uma situação que acontece pela segunda vez desde Agosto naquele município serrano e que motivou a criação de um serviço de apoio permanente aos munícipes, através de uma linha verde (800 210 246). O fornecimento de água, que chegou a sair escura das torneiras, foi reposto na quinta-feira, depois de um dia de interrupção, mas, e porque a água captada na barragem da Sra. do Desterro apresentava ainda alguns resíduos, que não são possíveis de eliminar no âmbito do tratamento, a autarquia alertou todos os munícipes para não utilizar a água da rede pública para beber. O decantador da Estação de Tratamento de Água (ETA ) da albufeira da Senhora do Desterro «não é suficiente para tratar a água nas condições em que esta se apresenta», afirmou Rui Rodrigues, do departamento de Recursos Hídricos do Instituto da Água (Inag), explicando por que motivo foi necessário proceder ao corte do abastecimento. De resto, uma equipa de técnicos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) esteve sexta-feira em Seia para avaliar a possibilidade de tornar o decantador operacional nestas circunstâncias. O Inag tinha considerado a eventualidade de alguns equipamentos das ETA não funcionarem perante a concentração excessiva de determinadas substâncias. Além da escassa capacidade do decantador, verifica-se que a admissão de água à ETA é feita por uma vala a céu aberto, o que potencia também o arrastamento de matéria orgânica e resíduos dos incêndios.

Entretanto, o Governo Civil da Guarda alertou na última quinta-feira as autoridades locais para a possibilidade de «consequências negativas para a qualidade da água» em consequência dos incêndios florestais. Em causa estão as fontes de abastecimento às populações do Açude de Porto de São Miguel, no rio Côa (Almeida), a Barragem de Penha de Prados (Celorico da Beira), a Barragem do Caldeirão (Guarda), a Barragem de Vascoveiro (Pinhel), a Barragem de Sabugal, o Rio Alva (concelho de Seia) e a Barragem da Ribeira Teja (Trancoso). Baseando-se em informações do coordenador distrital do Centro Distrital de Bombeiros e Protecção Civil, António Fonseca, o Governo Civil da Guarda refere que aquelas fontes de abastecimento «poderão ser sujeitas a escorrências superficiais em caso de precipitação» com consequências na qualidade da água. Citado pela Lusa, o responsável pela Direcção Regional de Ambiente e Ordenamento de Território (DRAOT) da Guarda admitiu a existência de situações «pontuais» de má qualidade da água para abastecimento público em vários locais afectados pelos fogos florestais. Fonseca Carvalho revelou ainda que os tratamentos destas águas poderão «não estar preparadas para resolver este problema em termos de filtros».

Luis Martins

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