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Seca activa

Um jardim à beira-mar plantado, cujas flores murcham com o avolumar da seca. Eis uma forma poética para definir este país onde os “D. Quixotes têm causas mas não têm força para lutar contra os moinhos de vento”. Sabemos que o risco de nos tornarmos num deserto é bem real, mas sentimo-nos pequeninos para fazer alguma coisa. É mais fácil soltar uma gargalhada quando o mais afamado líder do G8 decide mostrar que está sensibilizado com a poluição automóvel e opta pela bicicleta, nem que para isso tenha que atropelar alguns polícias, do que criticá-lo por não fazer nada no que respeita às alterações climáticas.

– A última Cimeira do G 8 foi uma oportunidade perdida para o clima, no entanto, quem se preocupa com isso?

– – A União Europeia acusa Portugal por atraso nas leis ambientais, na legislação nacional não estão ainda consagradas directivas comunitárias respeitantes aos processos de Avaliação Ambiental e Gestão do Rótulo. Mas não é só aqui que o país falha, também no tratamento das águas residuais não agradamos a Bruxelas, muitos pólos urbanos, entre os quais a Covilhã e o Fundão, não tratam convenientemente as suas águas, isto para não falar dos desperdícios que cometemos, pois quando metade da água se perde através das canalizações…

– Sempre ouvi dizer que o exemplo não é o melhor método pedagógico, é o único, assim sendo que poderá exigir a União Europeia? Durão Barroso é acusado por inúmeras Associações de Defesa do Ambiente de travar a evolução ambiental na UE. Questões fundamentais como o ambiente marinho, a qualidade do ar, o uso sustentável de recursos, têm sido sucessivamente adiados.

“Inchamos” quando ouvimos que a UE tem de atingir os objectivos da Estratégia de Lisboa, mas esquecemos que esses objectivos, criar uma economia mais competitiva e inovadora do mundo, só são possíveis quando assentes numa base de desenvolvimento sustentável e nunca na destruição ambiental.

Continuamos impavidamente a assistir à seca severa que atinge 80 por cento do continente. Uma seca meteorológica devido à falta de precipitação, uma seca hidrológica devido à redução das águas subterrâneas e uma seca activa devido à falta de respostas dadas pelos responsáveis e pela maioria dos cidadãos a este problema.

Por: Telma Madaleno *

* Responsável pelo núcleo da Quercus da Cova da Beira

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