Compro com frequência o “Expresso” e desde que refez a sua Revista, compro-o sem falhar. Estou de regresso à paixão da informação na construção de mim. Os jornais, quando devidamente escritos, quando trazendo notícias fundamentadas e sem os condimentos da emoção e do espetáculo, são um biberão de cultura e de experiências. “Fugas” no “Público” e esta “Revista E” dão gosto ao fim de semana. Temos os artigos miúdos de Miguel Esteves Cardoso, o azedume de Vasco Pulido Valente e temos entrevistas substantivas, biografias sólidas, opiniões condimentadas que nos chegam no E. No sábado deliciei-me com as palavras de Sebastião Salgado, um desiludido da raça humana, um apaixonado da Natureza e um fotógrafo maior da humanidade e do planeta. O mais forte da entrevista é a desilusão pela raça humana. A mesma força amarga e áspera que têm os sobreviventes da série “Walking Dead”, a mesma desilusão de Saramago em “Ensaio sobre a Cegueira”, a mesma descrição brutal de Fernando Savater em “El Gran Laberinto”. A força das suas imagens cruzou a maldade humana no Ruanda e no Brasil e testemunhou a infinita capacidade do mal em construir território. A força bruta entre Bem e Mal, a perceção do ateu de que existe uma dicotomia fraturante. Também esse é o texto religioso em que Sebastião não acredita. A procura do bem numa convicção que, ao ser convicta, transporta fronteiras e fanatismos é a idiossincrasia religiosa. Sebastião Salgado descreve algumas histórias curtas que o impressionaram e a mim impressionou-me esta vivência que me vai levar à sua exposição em Lisboa depois de 10 de abril.
Por: Diogo Cabrita