Nasceu no primeiro minuto de 2011 no Hospital Sousa Martins, na Guarda. A primeira portuguesa do ano vive no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, no seio de uma família humilde, mas esperançada num futuro melhor.
«No Inverno está frio aqui dentro e no Verão é muito quente». É desta forma que Susana Espinha, a mãe da pequena Diana, caracteriza o local onde vive com o marido e as suas três filhas, na freguesia de Escarigo (Figueira de Castelo Rodrigo). Trata-se de uma garagem com dois pisos, que lhes vai servindo de casa há oito anos. Com paredes em tijolo à vista e cimento, a casa, improvisada, não oferece muitas condições de habitabilidade e menos ainda de salubridade. No piso inferior um espaço comum, que é simultaneamente entrada, sala de estar, de jantar, dispensa, adega e arrecadação.
Ao fundo, uma casa de banho exígua, com menos de dois metros quadrados e uma pequena arrumação. «A casa da mãe do meu marido caiu e tivemos que vir para aqui», justifica Susana Espinha, que, resignada, assume que «o conforto não é muito, mas temos que nos aguentar».
Meia dúzia de degraus conduzem-nos ao piso de cima, que engloba um recanto com uma máquina de lavar-roupa, a cozinha – onde cabe uma lareira que ajuda a família a aquecer-se no Inverno, um fogão, um velho sofá e uma pequena bancada; o frigorífico tem que ficar no piso de baixo – e outra divisão aberta, onde dormem na mesma cama Beatriz, de 7 anos, e Carla, de 13. Os pais dormem ao fundo com a bebé, numa pequena “divisão” feita com uma placa de contraplacado. Apesar de ter já uma cama oferecida pelo Governador Civil da Guarda, «a Diana fica mais quentinha entre nós agora com este tempo mais frio», explica a mãe. Este espaço – numas águas-furtadas – é também utilizado pela família para estender a roupa. Quando pensa naquilo que mais necessita para si e para a sua família, Susana Espinha pára para pensar… e não consegue encontrar uma necessidade mais premente. Talvez porque, no meio de tanta dificuldade, de viver com tão pouco, nem saiba do que mais precisa: «Tanta coisa… Não tenho palavras», diz, enquanto o seu olhar se perde pelas paredes escurecidas pela humidade e pelo fumo da lareira.
Realista, esta mãe admite precisar «de mais condições para estarmos mais confortáveis», mas não perde a esperança de ter um lar melhor para os seus. «Já vieram cá tirar as medidas, mas não sei quando começam com a obra. Talvez no Verão, com o tempo mais quente», espera. Trata-se de um projecto que está a ser desenvolvido entre a Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo e o Governo Civil da Guarda para a recuperação da casa da família. A ideia surgiu depois de uma visita de Santinho Pacheco a Escarigo. Na ocasião, para além de ter ficado sensibilizado para desenvolver a ideia juntamente com a autarquia da sede de concelho, o Governador Civil da Guarda aproveitou para oferecer uma cama e várias embalagens de fraldas para a pequena Diana.
«Só sinto falta de um quarto só para mim»
Doméstica e dependente do que o marido ganha com a agricultura, Susana Espinha vê aos 36 anos, com preocupação, o futuro das suas três filhas e deixa o alerta: «Que estudem para terem um futuro melhor que o meu e o do pai, senão também lhes acontece o mesmo e têm que trabalhar no campo». Beatriz é agora a filha do meio. Reservada, solta poucas palavras – invariavelmente monossilábicas – quando questionada em relação ao que a rodeia. Está na segunda classe e também ela demonstra vontade em ver a situação familiar melhorada. Carla é a filha mais velha. Com 13 anos estuda, tal como a irmã, em Figueira de Castelo Rodrigo, mas no 5.º ano. Apesar de querer seguir os estudos, ainda não sabe o que quer fazer quando for mais crescida. «Há tanta coisa, mas não sei», afirma, sorrindo. Já se habituou às paredes de tijolo frias no Inverno: «Na cama, estou nas mantas quentes, por isso não tenho frio», refere.
No seio de uma família simples, também os sonhos desta criança de 13 anos parecem fáceis de realizar: «Para dizer a verdade, só sinto falta de um quarto só para mim. É o que eu quero. Mais nada. Porque a minha irmã é muito chata…», afirma, enquanto se ri para Beatriz. Em relação ao nascimento de Diana, confessa ter ficado «um bocadinho incomodada no início, não estava à espera», mas acrescenta que não tem ciúmes da atenção dada pela mãe ao elemento mais novo da família: «Não tenho, porque a minha mãe também me deu carinho. A minha irmã é que tem um bocadinho de ciúmes», confidencia. «Meti-me aqui por uns dias e já há oito anos que cá estou», revela, por sua vez, João Ferreira, o patriarca da família. Aos 57 anos, explica que viver com poucas condições «é uma questão de hábito, até já dá a impressão que estamos numa casa melhor». As filhas são, também para ele, motivo de preocupação diária. «Era bom ter divisões para elas estarem melhor, mas a situação às vezes complica-se. É a vida», lamenta.
Em relação ao nascimento de Diana, sublinha que a família está «muito contente com ela». Afinal, neste caso, Deus pode ter “escrito direito por linhas tortas”, já que a situação difícil da família foi revelada com o nascimento da pequena Diana, o “bebé do ano”. A ideia de que o futuro poderá ser melhor que o presente é, uma vez mais, reforçada por João Ferreira: «Temos que ir para a frente e temos que nos habituar com tudo, com pouco ou com muito. Se há fartura, há, se não há, também se vai vivendo».
Diana recebe seguro de vida
Por ter sido a primeira bebé do ano, Diana Ferreira, terá direito a um seguro de vida, oferecido pela Liberty Seguros, no valor de 50 mil euros, com um prazo de 21 anos. A bebé nasceu às 0h00 do dia 1 de Janeiro na maternidade do Hospital da Guarda.
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Rafael Mangana