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Sampaio e a democracia

1- Assisti com interesse aos acontecimentos dos últimos dias que foram de grande aceleração da história. Aquilo que por vezes dura décadas a mudar sofreu descontinuidades absolutas. Assim avançamos para um novo caminho. Jorge Sampaio de forma muito séria e corajosa decidiu pela forma mais ajustada de pensar a democracia e não seguiu os encantos do desejo. Aqui não tem que haver oportunidades mas sim lei, não intenções mas lógica. A democracia é um contrato vigiado por Instituições não votadas e essas são o seu garante. Outras Instituições como a Presidência são votadas mas para a estabilidade da Democracia ficar legitimada no voto popular. O contrato não pode ser alterado por sondagens e outros desejos. O contrato não deixa de ser válido pelos protagonistas mas sim pelo seu fim. A garantia da democracia está nas mãos dos tribunais e por essa razão é assumida como uma premissa de todos aqueles que vão às eleições.

2- A tentação totalitária é um vírus sem cor que penetra os discursos de muita esquerda e se veste de intolerância. A demissão de Ferro Rodrigues é a expressão pública dos discursos sem senso de Ana Gomes. A Presidência da República foi capaz de distinguir a importância do contrato do peso das vontades e deu uma lição magistral da democracia fundamentada na Lei e nas Instituições garantindo a legitimidade dos votos populares entre legislaturas. A democracia nunca esteve em perigo em todo este processo de grande lisura.

3- Entretanto morreu Maria de Lurdes Pintassilgo a única mulher que foi primeira ministro em Portugal. Este é um ponto que obriga a pensar. Mais de metade dos portugueses são mulheres e mais de 60% dos quadros formados em Universidades são hoje mulheres. O importante é perceber porque não estão na política mais mulheres e porque se esgota o modelo organizacional dos partidos onde elas não vingam sem cotas.

4- A chegada de Pedro Santana Lopes a Primeiro-ministro é uma situação inovadora da política, mas absolutamente legítima uma vez que votamos partidos e não pessoas e estes escolhem os seus protagonistas. Frequentemente chegam a Ministros pessoas que nunca foram legitimadas em voto algum e ainda bem. Podíamos perguntar ao povo qual o melhor economista? Há inúmeros assuntos que não têm que ser decididos no voto popular.

O jogo que se segue é saber se Pedro e Paulo se vão entender. Se vão saber de forma contida preparar as próximas eleições, se não se espalham em Modernas, Submarinos, política de Saúde e outros eventos. O voluntarismo de Santana Lopes irá colidir com a lei e os seus garantes? Surgirá a “tentação totalitária” de mudar a lei para cumprir os desejos próprios? Escolheremos só os nossos que são os únicos que são bons? Vamos ver, por isso a política democrática é um jogo aberto em que a oposição tem um papel de vigilância e denúncia.

5- O PS tem agora o protagonismo pois vai escolher o seu líder para o confronto democrático. Era importante dar um salto de geração e escolher entre Sócrates, ou António José Seguro, ou António Costa. Seria fascinante ver o partido abrir-se a outra forma de representatividade, a outro modo de ser plural internamente, a uma nova escolha discursiva em que o debate dos princípios e das políticas estava fora do insulto e da emoção gratuita. Um partido com definição para o ambiente, com desejo de ser moderno e sem medo de assumir compromissos com os eleitores em matérias fundamentais.

Por: Diogo Cabrita

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