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Salto Mortal

Corta!

Vencedor em todas as categorias (treze!) dos mais recentes prémios do cinema australiano, Sommersault – Salto Mortal está agora prestes a estrear nas salas portuguesas. Filme de uma sensibilidade feminina bem vincada, para colocar junto a filmes como os de Sofia Coppola, é também mais um a juntar a uma lista imensa de filmes estreados este ano, interessantes sem se revelarem brilhantes.

Acompanhando uma jovem, bela e confusa, que procura em todos os homens uma saída para um problema que nem sequer sabe muito bem qual é, Sammersault consegue por vezes ser desconfortável e desconcertante. Para além da jovem actriz, destaque maior para a fotografia, com liberdade para experimentações, sem, no entanto, o fazer de forma gratuita, nunca se esquecendo de servir a narrativa do filme, criando o ambiente ideal para que a ingenuidade da sua personagem principal mais visivelmente entre, por vezes, em contraste e conflito com a dureza da realidade que a rodeia e que dela, tantas vezes, se acaba por aproveitar.

Depois de Sideways, eis que o vinho volta de novo à ribalta nas salas de cinema, agora num documentário, que parece começar por se dedicar à globalização que a produção de vinho está a sofrer a nível mundial, e acaba por, no final, revelar ter sido acerca de muito mais que apenas isso.

Repleto de personagens fascinantes, Mondovino parte do vinho para a vida. Do particular para o geral, e é um dos melhores filmes estreados este ano. Que a realidade consegue ser, tantas vezes, mais interessante que a própria ficção, já não será novidade para muitos, mas, em Mondovino, a realidade que nos é mostrada, de tão interessante, através das suas pessoas, histórias e situações, quase não parece, mesmo assim, real, de tão fascinante. O realizador ou nos está a enganar ou então teve imensa sorte com aquilo que foi conseguindo captar, ao longo de quatro anos, em vários países espalhados por vários continentes.

No final, o vinho e a forma como ele é produzido, ou todo o processo que leva a que um determinado vinho se veja classificado como o melhor do mundo, com o que isso irá implicar no preço a que ele acaba por ser vendido, ou o simples facto de a própria individualidade e diferenças entre vinhos de todo o mundo se estarem a esbater, perde importância. Mondovino, para além de uma mordaz critica, maior e mais inteligente que qualquer uma que Michael Moore já tenha sequer imaginado, aos Estados Unidos e todo o seu império, cada vez mais vasto, é um imenso hino à joie de vivre, ideal para quem com ela viva ou dela sinta necessidade. Neste mundo cão, e repare-se na tão forte presença de tais animais, é preciso sermos nós, cada um de nós, a procurar a nossa individualidade, como objectivo máximo para uma felicidade e equilíbrio só assim possível. Não basta culpar os outros. A individualidade começa em cada um. Basta querer. O problema, muitas vezes, e este filme mostra isso mesmo, é que nem todos a desejam.

Por: Hugo Sousa

cinecorta@hotmail.com

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