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Salários políticos

Pontos nos Is

Por diversas ocasiões manifestei aqui a minha opinião sobre os vencimentos dos políticos. Sou dos que pensa que um político deve ter um vencimento que corresponda à responsabilidade do cargo que ocupa, ou seja, deve ser bem pago. Mas, aquilo que auferem deve ser de acordo com a realidade económica e social do país.

Muitas vezes ouvimos dirigentes partidários comentarem que não será possível atrair para a política indivíduos de qualidade, pois no sector privado ganham mais. Este argumento é demolidor.

Manifestam assim uma mediocridade assinalável em relação aos próprios e a todos os que têm actividade partidária activa. Esquecem-se por vezes que o poder é um afrodisíaco e a prática política está (ou deve estar) associada a uma elevada dose de abnegação e dedicação à comunidade. A política é, tem de ser, uma actividade nobre.

Recordo uma figura de estilo usada por Almeida Santos, ao tempo Presidente da Assembleia da República, que defendia o aumento de salários dos parlamentares antes que «alguém deposite umas moedas na mão de um deputado que está a chamar um táxi por pensarem que está a pedir» esmola.

O jornal espanhol “Expansión” fez um levantamento sobre o que auferem os políticos a nível internacional e apresentou conclusões interessantes. Por exemplo, o senhor Bush recebe 28,5 mil euros mensais. Mas Bill Clinton ganha bastante mais só a dar conferências. Na Europa do Norte paga-se muito mais aos dirigentes que no Sul. Assim, Tony Blair e Gerard Schröder recebem salários relativamente chorudos se comparados com os países mediterrânicos: 22,2 mil euros e 19,3 mil, respectivamente.

Em qualquer dos casos o dinheiro não parece ser a razão para os mandatários dos países mais ricos do mundo se dedicarem à tarefa. Os seus salários são muito inferiores ao das grandes estrelas do espectáculo, do desporto ou da alta finança.

Por cá, segundo o “Diário Económico”, Durão Barroso ganha mais do que José Maria Aznar! O Primeiro Ministro português recebe um salário bruto de 7,2 mil euros, um valor 6 por cento superior ao do seu homólogo espanhol. Os ministros portugueses recebem, mais 4,5 por cento do que os seus colegas espanhóis. E em relação aos secretários de Estado, em Espanha ganham menos 2,2 por cento.

Quanto aos deputados à Assembleia da República (os que davam «pena» a Almeida Santos), recebem mais 13,57 por cento que os parlamentares espanhóis. Se optarem pela exclusividade, recebem mais 10 por cento em despesas de representação, ascendendo o seu vencimento a 3.785,8 euros. Em Espanha este regime de “exclusividade” não é considerado à hora de ter mordomias. O salário mínimo português é 356.60 euros enquanto o espanhol é de 451,20 euros.

Última curiosidade. O Primeiro Ministro francês, Jean-Pierre Raffarin, recebe “apenas” 8,7 mil euros mensais. E o chefe de Governo da Itália, Sílvio Berlusconi, recebe para liderar o Executivo 7,5 mil euros. Suponho que nenhum está na política por dinheiro. E menos ainda Berlusconi, que é um dos homens mais ricos do mundo, que paga a gestores das suas empresas ordenados muito altos, mas como Primeiro Ministro pode legislar de acordo com os seus interesses. O italiano tem boas razões para não estar na política por dinheiro…

Luís Baptista-Martins

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