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Sabor escolhido

Barragem de Pêro Martins «é uma questão de tempo», acredita autarca de Figueira de Castelo Rodrigo

O presidente da Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo concorda com a construção da barragem no Baixo Sabor, mas disse que continua a defender uma infraestrutura do género no Alto Côa como «estruturante» em termos de reserva de água. Reagindo ao anúncio da localização final do novo empreendimento hidroeléctrico na região duriense, Armando Pinto Lopes considerou que a opção do Alto Côa poderia ser construída «mais rapidamente, teria maior rentabilidade com a produção de energia eléctrica e poderia mais facilmente levar a cumprir a directiva da União Europeia que dá até 2010 para que 39 por cento da produção portuguesa de energia eléctrica seja de origem renovável».

De resto, o autarca continua optimista e acredita que a barragem de Pêro Martins, apontada como a solução alternativa ao Sabor, «é uma questão de tempo e há-de vir a sua vez», garante. «Sempre defendemos esta opção, mas nunca colocámos a questão em termos de competitividade com o Sabor. O que defendemos e acreditamos é que a barragem do Alto Côa é importante economicamente e como recurso hídrico», acrescentou Armando Pinto Lopes, para quem continua ser necessário «rentabilizar o recurso que representa o Côa em termos energéticos, paisagísticos, patrimoniais e hídricos». Nesse sentido, mantém a convicção de que os projectos previstos há quase duas décadas para Pêro Martins e Monforte, no curso do rio Côa, «vão ser construídos dentro de dez ou 12 anos, tendo em conta não só a sua importância em termos de produção de energia eléctrica, mas sobretudo na criação de uma reserva de água e para evitar cheias no Douro». O ministro do Ambiente, Arlindo Cunha, revelou terça-feira que a nova barragem hidroeléctrica portuguesa vai ser construída no Baixo Sabor (Torre de Moncorvo), um local altamente valorizado pelas conclusões do estudo comparativo dos impactos positivos e negativos dos dois empreendimentos levado a cabo pela Companhia Portuguesa de Produção de Electricidade (do grupo EDP).

O aproveitamento do Baixo Sabor é considerado muito mais vantajoso tanto em impactos positivos, como negativos. Contra esta barragem só o facto de assentar em áreas naturais classificadas pela União Europeia, porque de resto é mais vantajoso em termos hidrológicos, de estimativas de custo de produção de um megawatt/hora e de entrada em serviço (prevista em 2009). O empreendimento do Alto Côa apenas permite um armazenamento de 400 milhões de metros cúbicos de água e só ficará concluído, na melhor das hipóteses, em 2015. Acresce a estas contrariedades que o custo de produção de um megawatt/hora no Baixo Sabor será de 98 euros contra os 125 euros no Alto Côa. Um dos argumentos de Arlindo Cunha para justificar a opção pelo Baixo Sabor foi o tempo de construção da barragem, pois a localização escolhida permitirá a conclusão do empreendimento «cinco anos mais cedo do que a alternativa Alto Côa. Em contrapartida, as obras demorariam «10 anos» nesta opção e teriam um impacto ambiental «muito negativo, sobretudo nos habitats hortícolas», esclareceu o ministro, exemplificando com a quantidade de pessoas que circulariam na zona, a utilização de explosivos e a remoção de escombros.

O governante argumentou também que a barragem no Alto Côa poderia afectar o património arqueológico classificado pela UNESCO e que inviabilizou a construção da barragem de Foz Côa. Além disso, «o Baixo Sabor custa quase metade da alternativa Alto Côa e os custos da energia eléctrica ficam também mais baixos». No caso do Sabor, o investimento para a construção é de 250 milhões de euros, contra 450 milhões de euros que seriam necessários para o Alto Côa. Acresce a esse dado que a opção escolhida apresenta «significativamente maior capacidade de controlo de caudais de ponta em caso de cheia e maior capacidade de regularização no caso de caudais baixos», disse ainda o ministro, que frisou que o Baixo Sabor foi uma «decisão política com base em critérios técnicos de natureza ambiental». Quem não comunga destas ideias são os ambientalistas que têm alertado para o perigo de destruição de habitats de fauna e flora num rio que apelidam de «último rio selvagem em Portugal». A Plataforma Sabor Livre – conjunto de ambientalistas contra a construção desta barragem – tinha avisado na véspera Arlindo Cunha que avançaria com uma providência cautelar em tribunal caso o Governo optasse pelo rio Sabor. Trata-se de um empreendimento que começou a ser projectado depois de se ter abandonado a ideia de construir uma barragem em Foz Côa, onde se descobriu um importante património arqueológico. No seu parecer, o Instituto da Conservação da Natureza (ICN) defendeu que não deveria ser construída nenhuma das duas barragens, mas admitiu que a solução do Alto Côa teria um impacto ambiental menor.

Luis Martins

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