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Ruptura no Teatro das Beiras

Sócios apoiaram Fernando Sena pela forma como geriu a crise e por ter mantido o normal funcionamento da companhia desde Agosto

Um confronto de ideias sobre o modelo de gestão artística a seguir levou toda a equipa artística e técnica do Teatro das Beiras a demitir-se em bloco em Agosto passado. Os actores Alexandre Barata, Ana Ademar, Ana Filipa Trindade, Carlos Calvo, Ricardo Brito, Rui Silva e Rogério Bruno, o técnico Pedro Fino e o encenador Nuno Pino Custódio demitiram-se a 25 de Agosto, mas só na última segunda-feira é que o caso foi tornado público junto dos sócios do Teatro das Beiras, em Assembleia-Geral, e principalmente por se ter verificado um novo elenco na mais recente produção da companhia, a peça “Crónicas”, de Eduardo de Filippo.

O despedimento surge na sequência de uma petição de princípios assinada a 22 de Julho pelo colectivo demissionário, na qual exigiam uma «nova filosofia de gestão artística» e o afastamento do actual director da companhia, Fernando Sena. No documento enviado à comunicação social, os demissionários acusam aquele responsável de não ter uma «relação de confiança e de boa fé para com os actores e técnicos», provocada pelo «desgaste e falta de motivação» de Sena, o que, no entender dos subscritores, «afectava o rendimento e estado de espírito» de toda a estrutura. «As infinitas falhas de relacionamento humano levaram a um desgaste psicológico insuportável em todos os elementos da equipa», dizem, reconhecendo, no entanto, o «papel importante» que Fernando Sena teve na história e na fundação da companhia. Um lugar permanente que para a equipa artística e técnica «o levou a uma situação de desgaste, isolamento e incompatibilidade permanentes com a realidade da companhia», originando assim uma situação «insustentável e que punha em causa o próprio projecto».

A atitude de protesto do colectivo visava acima de tudo a «estabilização e evolução artística», sublinham, procurando assim explorar novas técnicas de expressão dramática. «Somos actores e tudo o que queríamos é que nos deixassem sê-lo com dignidade. Tudo o que queríamos era a criação de condições psicológicas para continuarmos a trabalhar», referem. «A única resposta que obtivemos foi a ameaça de expulsão e de instauração de processos disciplinares», acrescentam, esclarecendo que a demissão em bloco «não foi um acto imponderado, irresponsável, gratuito ou afrontoso». “O Interior” tentou contactar Fernando Sena, mas este não quis justificar as críticas nem as acusações do grupo, remetendo para o presidente da Assembleia-geral qualquer posição sobre o assunto. A “O Interior”, o director da companhia apenas disse que «tudo o que tinha que ser esclarecido foi debatido internamente». Também em nota de imprensa, o presidente da mesa da Assembleia-Geral, Fernando Paulouro, disse que os sócios aprovaram «por unanimidade um voto de confiança no presidente da direcção», essencialmente pela forma como «geriu a crise e assegurou o normal funcionamento da companhia», ao ter conseguido estrear um espectáculo que já estava agendado antes da demissão dos elementos.

Para já, Fernando Sena apenas garante o cumprimento dos compromissos contratualizados com o Ministério da Cultura, como a exibição da nova peça e a realização do Festival de Teatro da Covilhã, em Novembro próximo. Para 2005, falta ainda esperar pelo resultado da candidatura para os próximos três anos, que está em apreciação no ministério. A saber, a sessão extraordinária elegeu ainda Alexandra Santos e João Cerdeira para acompanharem Fernando Sena, António Salvado e Eugénia Nunes na direcção. Para o conselho fiscal, foi eleita Gisela Gonçalves, mantendo-se Etelvina Ferreira e Susana Pires, enquanto que na mesa da Assembleia-Geral entrou Paula Nogueira, mantendo-se Fernando Paulouro e João Casteleiro.

Liliana Correia

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