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Ronald Reagan

Ronald Reagan morreu na véspera das comemorações do 60º aniversário do D-day. Há vinte anos, nas comemorações do 40º aniversário, ele próprio discursara em Omaha Beach, onde este ano discursou George W. Bush. Uma forma simples de medir o legado de Reagan consiste em recordar as imensas mudanças que ocorreram no mundo e na América nestes últimos vinte anos.

A primeira e mais óbvia foi a queda do muro de Berlim e o colapso do império soviético. Ronald Reagan – juntamente com Margaret Thatcher e, num plano distinto, João Paulo II – foi um dos grandes protagonistas dessa viragem histórica.

Reagan inverteu a atitude defensiva do Ocidente face ao comunismo. Restaurou o orgulho na civilização da liberdade e responsabilidade pessoal. Quebrou o complexo de culpa do Ocidente pela sua própria prosperidade. Mostrou que esta prosperidade fora conquistada pela ética do trabalho, o espírito de livre empreendimento e a responsabilidade individual e familiar.

Ao recordar estes simples princípios da civilização ocidental, Ronald Reagan foi presenteado com o ódio de todos os adversários do Ocidente – a começar pelos intelectuais semi-educados que preenchem as fileiras dos «companheiros de viagem» do comunismo. Simultaneamente, Reagan tornou-se um dos políticos mais populares entre as populações oprimidas do mundo, em especial pelo comunismo.

Mas não só. Ronald Reagan mudou a paisagem política da América. Tendo sido na juventude um «Roosevelt democrat», Reagan pôs fim à hegemonia intelectual herdada do «New Deal» e recuperou para o «novo» partido republicano a iniciativa política e intelectual. Como resultado dessa revolução tranquila, o partido democrata foi obrigado a recentrar a sua política sob a liderança de Bill Clinton – um pouco o que aconteceu no Reino Unido com Margaret Thatcher e Tony Blair.

O novo republicanismo de Reagan centrou-se na simultânea defesa de três ingredientes aparentemente inconciliáveis: redução dos impostos, equilíbrio do orçamento, reforço da defesa nacional. É discutível que tenha tido sucesso no reequilíbrio orçamental – embora os republicanos reclamem que teve, meia década mais tarde.

Seja como for, a agenda política americana é hoje largamente marcada pela chamada «Reaganomics». Embora o país esteja politicamente dividido ao meio, os republicanos detêm a Presidência, a maioria nas duas câmaras do congresso, e a maioria dos governadores estaduais. O centro geográfico da política americana deslocou-se da tradicional costa Leste para o Sul e o Oeste.

Na sua última intervenção pública, na Convenção Republicana de 1992, Ronald Reagan afirmou que o seu programa podia ser resumido nas palavras do presidente Lincoln:

«Não é possível fortalecer os fracos enfraquecendo os fortes; não é possível enriquecer os pobres empobrecendo os ricos; não é possível ajudar as pessoas fazendo por elas o que elas poderiam fazer por si próprias».

Por outras palavras, a prosperidade material do Ocidente é resultado de uma cultura de liberdade fundada na educação do carácter, na adopção voluntária de um código de valores fundado na liberdade e responsabilidade pessoal. Ronald Reagan «limitou-se» a recordar-nos isso.

Por: João Carlos Espada

Rede Expresso

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