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Revolta

Agora Digo Eu

Escreveu Juahrez Alves: «A nossa liberdade de expressão tem o dever de prender as palavras soltas e soltar as palavras presas».

E hoje apetece-me soltar todas as palavras presas. Dizer o que me vai na alma. Olhar para a violência, a selvajaria, a barbárie e berrar a plenos pulmões contra os assassinos, os canalhas, que a todos querem calar. Dizer que não tenho medo dos que se tentam impor pela força porque estou farto de ver assassínios, execuções, decapitações levadas a efeito por essa corja fanática, doentia de idiotas da Jihad, financiados sabe-se lá bem por quem e em nome de quem! Que continuo a respeitar todas as crenças e religiões, embora não siga nenhuma, pois está em causa o legado histórico, o dogmatismo, o radicalismo e extremismo de que estão obviamente impregnadas. Afirmar que quando se ataca a LIBERDADE jamais pedirei desculpa ou perdão por viver em LIBERDADE.

Como escreveu Camus, «escolho a LIBERDADE pois esta preserva o poder de protestar contra a injustiça e salva a humanidade» mesmo percebendo na ótica de Drummond de Andrade que «ela é defendida em discursos e atacada com metralhadoras».

Escrevo, hoje e aqui, que sou contra a intolerância, o racismo, a pobreza. Afirmo e reafirmo que este nosso ridículo mundo caminha na direção errada, nessa mistura consentida entre o bem e o mal, num choque de culturas antípodas, esquecendo-nos ou não nos interessando em defender uma sociedade pluralista, multicultural que lute sistematicamente pela paz e pela justiça, onde todas as opiniões possam ser expressas mesmo as mais estúpidas e idiotas, mesmo aquelas que possam negar a essência da LIBERDADE, mas nunca privando os povos da sua própria natureza e identidade.

Dir-me-ão que o mundo perfeito não existe. Pois não. Mas, pelo menos, podemos tentar. Se calhar sou um utópico sonhador. Como dizia Lennon, «não sou o único e acredito num mundo compartilhado por todos». Basta que eu, o leitor, eles, os governos, as igrejas, as organizações, assim o queiramos.

O velho continente está abalado. A pátria da revolução está em choque. A tentativa de calar a imprensa livre, felizmente, não resulta e jamais resultará. A intimidação é um ato que apenas os fanáticos, os cobardes e os filhos da puta se permitem exercer.

Se o mundo de que há pouco falava tivesse dado o primeiro passo para o entendimento, estou certo e seguro que nada disto acontecia. Mas, se por mera hipótese, este vil atentado à LIBERDADE ainda assim ocorresse, a resposta seria sempre, em uníssono, não só em Paris, mas de norte ao sul, de este a oeste, do hemisfério norte ao hemisfério sul, da Lapónia à Antártida, todos, na mesma língua, na língua universal: Mi ankaŭ estas Charlie (“Também eu sou Charlie”).

Por: Albino Bárbara

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