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Reviver o passado

Ladrar à Caravana

Fui a um banco e tive a sensação de estar numa bad trip, um flash back aos tempos negros do PREC e da banca nacionalizada.

Alguns ainda se devem lembrar (com um arrepio de susto) da forma como a maralha era tratada nos bancos, filas intermináveis, caixas mal-encarados e arrogantes, chicos-espertos a furar a fila “só pra pedir uma informaçãozinha” e que despejavam no balcão um saco de plástico cheio de moedas e cheques deixando a ralé completamente possessa. E o caixa a marimbar-se para isso. E quando, finalmente, chegava a nossa vez, o funcionário fechava o tasco, “vou almoçar, passe para outro guichet” e lá íamos outra vez repetir o ritual de olhar prás moscas e para a nuca do cliente à nossa frente lá no fim da fila. Eu por acaso ainda me lembro. E mal começaram a abrir bancos privados, saltei de contente e até acreditei que o sistema ia melhorar e que, graças à concorrência, as pessoas iam passar a ser tratadas com respeito. Claro que sou um sonhador, mas é sempre bom ter esperança, é a fé que nos salva, etc e tal…

Pois a bad trip que fiz, agora, foi num banco privado, nem digo qual é, que podem ter comprado publicidade aqui ao jornal, e parecia mal estar a falar assim da clientela. Instalações magníficas. Três guichets. Dois gabinetes de private banking (parece que é para clientes especiais com dívidas astronómicas). Cartazes de campanhas à compra de carros e casas e faqueiros de prata e tudo aquilo que faz uma pessoa feliz. Fila até à porta (18 pessoas, tive mais que tempo para contar, recontar e fazer a prova dos nove). Apenas um guichet aberto. Uma chica-esperta passa à frente de todos “é só pra entregar uma coisinha senum simporta muntóbrigada” e saca de um molho de notas e cheques que a senhora do caixa abre, separa, conta, classifica, carimba. O maralhal na fila ia resfolegando, bufando, batendo o pé, suspirando. Quando chegou a minha vez, “isso não é aqui. Tem de ir para aquele balcão para tratar desse assunto”.

“Pois. Mas não está lá ninguém”

“É que foram almoçar, mas o senhor espera um bocadinho, que já voltam”.

“Um bocadinho.” Quando me falam assim ao coração, derreto, fico logo desarmado. E lá fiquei. Mais um bocadinho. À espera.

No meio de tanta lixeira informativa, de tanto disparate nas esferas da política e do futebol, da vida social ou sindical, uma notícia que me fez sorrir foi o anúncio de uma corrida de espermatozóides a ser transmitida em directo pela televisão inglesa.

Apesar de ter como pretexto a necessidade de atrair espectadores que ignoram os documentários científicos, argumento que considero meritório, fico na expectativa dos resultados. E curioso em saber quem ganhou a corrida, claro.

Por: Jorge Bacelar

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