Qual é o ponto de partida, a base para os critérios de avaliação em Educação Física?
O ponto de partida para a proposta dos critérios de avaliação para a disciplina de Educação Física é o do cumprimento dos programas emanados do Ministério da Educação conjugado com a vontade de promover o sucesso escolar dos nossos alunos.
Acha importante que os aspectos sócio-afectivos valham em EF 20% quando são de menor importância nas outras disciplinas?
O grupo de professores de Educação Física da ESAAG aprovou estes critérios de avaliação respeitando as características da disciplina e preocupando-se em nunca esquecer a grande importância que as relações humanas têm e devem continuar a ter na formação dos jovens. As actividades físicas aprendem-se e aperfeiçoam-se cooperando. O ser humano é eminentemente social; como tal, estes aspectos devem estar sempre presentes e ser valorizados dentro e fora da escola.
O vosso documento dos critérios fala em domínio cognitivo. É correcto avaliar em EF separadamente o cognitivo e o motor?
Vou responder citando um grande mestre das ciências desportivas, Olímpio Bento, que nos diz que os actos desportivos são essencialmente exercícios espirituais, morais e anímicos, somente são físicos na aparência. Na sua substância e consumação são sempre decisões volitivas, uma mobilização da vontade para buscar o que nos falta ou conservar o que temos.
E é prática comum os professores avaliarem o domínio cognitivo por meios convencionais (testes escritos)? Porquê ou porque não?
Se o ensino é meramente retórico/teórico, é comum que a essa acção corresponda uma resposta com as mesmas características. Na ESAAG o ensino em Educação Física é global e preferencialmente prático, aprende-se a fazer fazendo, ensina-se e promove-se a aprendizagem pela experiência pessoal, incentiva-se a inter-ajuda, corrige-se o erro e apoia-se a superação das dificuldades aula a aula, com a prática das actividades que constam do processo de ensino e aprendizagem. A avaliação em Educação Física deve ser a expressão de tudo o que o aluno faz nas aulas.
No Ensino Básico, como os alunos têm que realizar uma prova global escrita, também contemplamos o teste escrito no processo de avaliação.
No plano motor o aluno é avaliado só nas situações formais de avaliação ou a avaliação é contínua? Quanto pesa uma e outra?
No Ensino Secundário, nos critérios de avaliação de Educação Física, o Domínio Motor tem um peso de 60% (12 valores) distribuídos da seguinte forma: o aluno é sempre empenhado e interessado nas aulas (avaliação contínua – 3 valores); o aluno desempenha, correctamente, todas as tarefas propostas nas aulas (avaliação contínua – 3 valores); o aluno resolve correctamente todas as situações de avaliação que lhe são propostas (avaliação prática – 6 valores).
No Ensino Básico a avaliação do Domínio Motor contempla apenas as duas primeiras vertentes, que respeitam à avaliação contínua, com o peso de 60% no 7º e 8ºano e de 65% no 9º ano.
Quando um aluno não tem mesmo “jeito” para a actividade física, ele deve ser penalizado por essa “fraqueza natural”?
Todos somos diferentes e é na diferença que reside a nossa individualidade. Isto não significa que sejamos mais capazes ou incapazes uns do que os outros. Somos simplesmente diferentes. E, se na Educação Física tenho mais facilidade em adquirir e dominar as competências tenho nessa área as minhas tarefas mais facilitadas. Se tenho mais dificuldade, tenho, como em tudo na vida, que me esforçar mais para as superar. Na Educação Física não penalizamos nem favorecemos as fraquezas dos alunos, avaliamos as competências adquiridas no decorrer do processo de aprendizagem.
No Ens. secundário e em especial no 12º ano há alguma “luta” pela nota em EF, sendo às vezes difícil escapar às pressões de pais e alunos, que consideram por vezes estar esta disciplina a mais no currículo. Como lidam os professores de EF com este preconceito?
Infelizmente ainda nem todos evoluíram no sentido de perceber a GRANDE importância da Educação Física na formação integral dos nossos jovens. Felizmente que no mundo esses pré-conceitos estão ultrapassados e felizmente para Portugal a Europa exige que a Educação Física seja tratada com o valor que ela na realidade tem.
Os professores de Educação Física lidam com este preconceito como com todos os outros, com pena. “Velhos do Restelo” sempre os houve.