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Requalificar?! A fingir que fazemos coisas

Crónica Política

A falta de planeamento que o executivo da Guarda possui faz emergir temas como revitalização, renovação, requalificação e reabilitação.

A cidade encheu-se de “outdoors”, verdadeira campanha publicitária eleitoralista de quem nada está a fazer. Fazem-se obras de metros de rua, de estrada e ao lado coloca-se a campanha publicitária “Estamos a Requalificar”; mudamos duas telhas numa escola e colocamos a campanha publicitária “Estamos a requalificar”. Nem o respeito pela Guarda e pelos guardenses se tem em conta, já só falta colocar nestes “outdoors” a fotografia do senhor presidente da Câmara da Guarda a dizer “Não se esqueçam: no ano que vem temos eleições autárquicas”. A Guarda não merece e isto não é pensar nas suas gentes nem em quem nos visita nesta altura, VERDADE? Sim, verdades!

Verdade é ainda a atitude invasiva de quem não quer nem saber o que pensam ou gostam os guardenses. Sabe, conhece ou respeita os gostos e preferências dos guardenses? NÃO, certamente que não, pois só assim se compreende que não tenha feito uma auscultação pública sobre o tipo de estátuas ou embelezamento das exorbitantes rotundas. Numa, uma estátua de autor, noutra, o Cristal. Mas o que é isto do Cristal, um símbolo inventado e trazido por este executivo com manias de mudar imagens sem cultura ou simbologia adequada à cidade! A Guarda é uma cidade com história, com cultura, quem não sabe antes de fazer deverá ler, estudar, conhecer… Que falta de respeito pelo nosso património cultural! Não conhece, não gosta da Guarda! Que pensarão aqueles que nos visitam, e nada sabem da Guarda, ao verem o cristal, ou melhor o “símbolo dos congelados”, por muitos assim apelidado, que a Guarda é a Cidade Cristal! Isto é um assalto à nossa história! Os seus gostos são feios! Elegeu um símbolo patético que nada tem a ver connosco, e agora teremos que com ele conviver. Não se esqueça, quando for embora leve-o consigo!

Na verdade a palavra requalificar serve para tudo, porém o prefixo “re”, de origem latina, pode ter três sentidos: Repetição, Reforço e Retrocesso. E o que dizer do Parque Urbano do Rio Diz, sendo este o ex-libris da cidade para os eventos de maior dimensão, parece que apenas é olhado pelo município aquando de visitas presidenciais e no calendário da Feira de Turismo… Não pode ser! Já que o executivo agora se apresenta com o objetivo fundamental da gestão urbana, o espaço, este, deverá ser entendido mais do que apenas na sua funcionalidade física, mas como um “bem” a preservar, um “produto” a promover e de certa forma a “vender”, tendo em conta a necessidade de atingir objetivos económicos e sociais que apenas parecem existir nas agendas de entrevistas e conferências de imprensa, depois voam com efeitos devastadores.

O parque está abandonado, não por pessoas, o lago está imundo e nestes dias de calor cheira mal, a relva pouco tratada, os corredores de mobilidade desportiva e recreio sem trato, enfim, um descuido visível a todos os que diariamente ou ocasionalmente o frequentam. Denota-se que o maior problema é a falta de manutenção dos espaços verdes e de um sistema de rega eficaz, e a deficiência na limpeza do rio Diz, das suas margens e espelho de água. Aqui não é preciso RE, aqui é preciso manutenção e preservação do espaço público, aqui é preciso gostar da Guarda!

Não deveria ser sancionável a não preservação de espaços públicos que receberam dinheiros comunitários para a sua implementação, ou mesmo criação, como é o caso do Parque Urbano do Rio Diz através do Programa Polis, e que agora não são mantidos em bom estado, pelo menos, para os efeitos em que foram concebidos?

Conhece a corrente de opinião “do urbanismo funcionalista”, que nasceu da industrialização do século XIX e início do século XX, que levou a uma expansão urbana sem precedentes e, em regra, não planeada. Este movimento marcou de forma incontornável o século XX quanto ao modo como se estendeu e praticou a intervenção na cidade existente. É um facto! Não conhece… Mas a sua equipa deveria conhecer… Que pena, nada sabem sobre cidades e mal conhecem a minha cidade. Saiba então que esta corrente de opinião foi uma reação à excessiva ação de sobrevalorização da “estética urbana” em detrimento da sua funcionalidade e eficiência. Atenção, o calendário já vai indicando que o tempo de prestar contas e de reações se vem aproximando, e o que temos? Nada de satisfatório para quem tanto prometia, apenas coelhos de cartola por todos já conhecidos como truques!

Abandone esta ideia patética de em tudo e para tudo “Estamos a Requalificar”, e requalifique melhor as pessoas que o aconselham, mude o slogan, não seria mais oportuno “Queremos o melhor para Si!” ou mesmo “Viver melhor na Guarda”.

Segundo a Direção-Geral de Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano, a requalificação urbana consiste na «(…) operação de renovação, reestruturação ou reabilitação urbana, em que a valorização ambiental e a melhoria do desempenho funcional do tecido urbano constituem objetivos primordiais da intervenção. (…) A valorização ambiental e a melhoria da qualidade do espaço urbano são normalmente abordadas numa dupla perspetiva: de resolução de problemas ambientais e funcionais (…) e a criação de fatores que favoreçam a identidade, a habitabilidade, a atratividade e a competitividade das cidades ou áreas urbanas específicas» (DGOTDU, 2008: 67). É isto que está a fazer? NÃO.

A paisagem e a imagem da cidade mudou, mas mudou para melhor? Creio que NÃO. A cidade beneficiou na medida em que foram melhorados espaços? Creio que também NÃO. Desenvolveu-se um espírito positivo na população e na cidade que se fora perdendo ao longo dos anos e reforçou-se o apego destes a esta? SIM é verdade, mas estamos mais críticos e exigentes depois da mudança, esperávamos mais, precisávamos e precisamos de mais, de muito MAIS.

Por: Cláudia Teixeira

* Militante do CDS-PP

Comentários dos nossos leitores
Fernando fernandes.fernand@neuf.fr
Comentário:
Concordo totalmente. Estou admirado a Sra autora ser militante do CDS-PP, qualificava mais à esquerda.
 

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