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Renan: do Aguiar da Beira à Oliveirense

Avançado brasileiro foi contratado pelo clube da IIª Liga e tem cláusula de rescisão de um milhão de euros

Ele era o 21, tinha um potente remate, fazia tabelinhas e marcava. Fez 15 golos em 42 jogos, durante os dois anos que passou no Aguiar da Beira. Inicialmente ganhava 300 euros, acabando por auferir apenas 100 na última época e meia. Renan Soares assinou contrato profissional de três épocas e meia com a Oliveirense, da IIª Liga, cuja cláusula de rescisão é de um milhão de euros. Vai começar por receber dois ordenados mínimos, com casa e despesas pagas. O sonho deste jovem brasileiro concretizou-se no Natal.

O encontro frente ao Sampedrense, a 9 de dezembro, foi o último com a camisola dos “cabicancas”. Em janeiro começou uma nova etapa com que sempre sonhou. «Vim para Portugal com o desejo de viver do futebol, dedicar-me exclusivamente à modalidade. Isso poderá agora acontecer na Oliveirense e sinto uma grande felicidade. Não sei se vou ser um grande jogador ou se poderei chegar mais longe, mas estou feliz com o momento. Valeu a pena todas os sacrifícios que fiz no passado, abrindo mão até de grandes sonhos e momentos familiares», referiu o avançado. Não foi fácil chegar aqui. Natural do nordeste brasileiro, aos 14 anos, Renan foi viver com o tio para São Paulo. Esteve ano e meio sem ver os pais e ainda teve de fazer um tratamento para ultrapassar um atraso na formação óssea. Tudo pelo sonho de jogar futebol. No Brasil era profissional e com contrato desde os 18 anos. Ganhava cerca de 250 euros no clube de Edmilson Ratinho, jogador que passou pelo Porto, Sporting e PSG, e no Colatina da Iª divisão do Estado de Espírito Santo.

Um empresário quis trazê-lo para Portugal e, em setembro de 2010, chegou a Chaves para treinar, onde não ficou por desacordo financeiro entre o agente e o clube. Passaram 20 dias até surgir a oportunidade Aguiar da Beira, que então militava na IIIª divisão. Foi inscrito na segunda volta: «Serviu como período de adaptação a um futebol totalmente diferente. Fiz cinco jogos e marquei um golo», recorda Renan. A pouca utilização nessa época de 2010/11 e a descida do Aguiar ao Distrital fez com que o mesmo empresário quisesse levá-lo de volta para o Brasil e, também a Fabiano, outro dos brasileiros que o agente tinha colocado no clube, este nos juniores. «Não aceitámos e ficámos à nossa responsabilidade, apesar de mantermos algum contacto com ele», disse o avançado de 23 anos. Correu o risco, «tive de conseguir um trabalho para não estar ilegal no país. Achei que não valia a pena voltar para o Brasil, pois confiava nas minhas capacidades e no meu trabalho para realizar um sonho. Arrisquei quando muitos não apostaram em mim. Se não tivesse corrido bem não sei onde poderíamos estar agora», declara.

Mas deu certo Renan fez 25 jogos e marcou 10 golos, sendo o melhor marcador e o jogador referência da formação aguiarense na época 2011/12 no Distrital da Guarda. Já nesta temporada, o avançado levava quatro golos marcados em 12 encontros na série C da IIIª Divisão. Na nova fase da sua carreira, a Oliveirense «é uma porta que se abre e que eu conseguirei fechar. Se até aqui consegui cumprir, tenho o sentimento que também o vou fazer. Se trabalhava durante o dia e à noite treinava e consegui evoluir, agora só a treinar e a jogar posso evoluir muito mais», diz, confiante. Todos os feitos alcançados e este novo passo na carreira foram possíveis também pelo apoio dos antigos colegas, equipa técnica e direção, num ambiente quase familiar. «Se eu cresci no futebol não foi apenas pelas minhas capacidades, mas também pelo grupo que encontrei em Aguiar da Beira e me ajudou. Sozinho não conseguiria ter alcançado esses resultados pessoais. Inicialmente foi difícil porque o meu futebol ainda não encaixava no Aguiar, mas fui assimilando as ideias e ganhando a confiança do treinador Nuno Sena», reconhece, realçando ainda a «inteligência do mister, que descobriu aquela nova posição para mim e eu agradeço».

As caraterísticas da vila do distrito da Guarda e das suas pessoas foram fatores adicionais que influenciaram a boa adaptação: «Por ser uma vila pequena é bastante acolhedora. Antes de sair do Brasil pedi a Deus para que as pessoas que fosse encontrar fossem recetíveis. E isso aconteceu em Aguiar, onde me senti bem. Também por haver mais brasileiros, mas nomeadamente porque encontrei a família Morgado que me acolheu», recorda. Foi quem lhe abriu espaço para trabalhar na loja de pneus gerida pelo pai do presidente da ADRC de Aguiar da Beira, Jorge Morgado. «É um grande homem. Ele apostou em mim e no Fabiano quando todos não acreditavam em nós. Nunca cobrou nada por isso. Gere o Aguiar com pouco dinheiro, por vezes atrasando salários, mas não era pelo dinheiro que eu estava cá. Vi este clube como uma oportunidade, que principalmente o presidente me deu. Estou muito grato por tudo e o Jorge sabe o carinho que tenho por ele», declarou o jogador.

Altino Pinto

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