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Relatório do INAG “alarmista”

Autarcas de Almeida, Celorico da Beira e Trancoso consideram situação de seca “preocupante, mas não crítica”

As notícias sobre os problemas de abastecimento público às populações, ontem divulgados pelo Instituto da Água (INAG), são «alarmistas» e «infundadas», contestam os autarcas de Almeida, Celorico da Beira e Trancoso, para quem a situação é «preocupante, mas não crítica».

Confrontado pelo “O Interior”, o presidente deste município garante que só Benvende, anexa da freguesia de Palhais com 74 habitantes, está a ser abastecida pelos auto-tanques dos bombeiros após esgotamento da nascente subterrânea. «De resto não há falta de água. A barragem da Teja tem armazenados 4,5 milhões de metros cúbicos que dão para uma população de cerca de 60 mil pessoas, ou seja, quatro vezes mais os habitantes do concelho», diz Júlio Sarmento, acrescentando que «não é necessário nem previsível» racionalizar o consumo em Trancoso, embora admita que algumas freguesias ainda possam ter problemas no Verão, «como acontece todos os anos».

Em Celorico da Beira, a situação é «por enquanto» comparável a anos anteriores. Contudo, a autarquia diz-se preparada para servir as populações que vierem a ser afectadas através de um plano que envolve a distribuição de água com o recurso a cisternas dos bombeiros. Uma alternativa que foi recentemente usada em Vale de Azares por causa de um problema na captação que serve a aldeia. «Não estamos apreensivos», sublinha o presidente António Caetano.

Também em Almeida se desvaloriza o relatório do INAG. António Baptista Ribeiro, vice-presidente da autarquia, confirma haver algumas freguesias da margem esquerda do Rio Côa a serem abastecidas pelos bombeiros, mas porque falta fazer as condutas em baixa aos pontos de ligação da Águas do Zêzere e Côa (AZC) e à barragem do Sabugal. «A situação não é crítica, mas idêntica à verificada há quatro cinco meses», garante, lembrando a localidade de Azinhal está a receber água em cisternas por causa desses trabalhos desde Maio de 2004.

«Mas estamos preparados para o pior. Sabemos que as descargas da barragem do Sabugal vão ser reduzidas e está-se também a equacionar a paragem das obras do túnel para o regadio da Cova da Beira para garantir o seu enchimento», acrescenta. Entretanto, um auto-tanque dos Voluntários do Soito está a ajudar neste serviço devido à avaria de uma viatura dos bombeiros almeidenses.

Na Guarda, a Câmara admite equacionar a aplicação de coimas aos munícipes que não racionalizarem o consumo nos próximos tempos. Também aqui a situação «não é grave», diz o vice-presidente Álvaro Guerreiro, para quem os caudais actuais da barragem do Caldeirão, que abastece perto de 60 por cento do concelho, devem conseguir dar resposta às necessidades. «Mas isso só será possível desde que a população não desperdice água. Os munícipes têm de perceber que é necessária uma redução drástica dos consumos para o estritamente necessário», refere, revelando que a autarquia vai editar uma carta de comportamento do consumidor com conselhos de racionalização e já está a cortar na rega dos jardins públicos.

INAG diz que mais de 2.500 pessoas têm escassez de água no distrito da Guarda

Guarda, Faro, Aveiro, Beja e Castelo Branco são os distritos portugueses com maiores problemas no abastecimento público de água, situação provocada pela “seca extrema” que assola o país e que afecta pelo menos 5.356 pessoas. De acordo com o Relatório Quinzenal de Acompanhamento da Seca, divulgado na semana passada pelo Instituto da Água (INAG), o distrito com mais problemas no abastecimento é o da Guarda, com 2.593 pessoas afectadas, distribuídas pelos concelhos de Trancoso (1.000 pessoas), Celorico da Beira (725), Almeida (520) e Sabugal(348).

As causas apresentadas pelo relatório para os problemas já registados prendem-se com «nascentes com pouca quantidade», ou «nascentes com pouca quantidade e esgotamento de furo». Nas dez localidades afectadas no distrito da Guarda, a população está a ser abastecida por viaturas de bombeiros. Em termos gerais, o relatório do Instituo da Água indica que cerca de 60 por cento do território de Portugal continental está em situação de «seca extrema», devido a um agravamento da situação nos últimos quinze dias. João Avilez, um dos coordenadores do mais recente Relatório Quinzenal de Acompanhamento da Seca elaborado pelo INAG, disse à Agência Lusa que a 28 de Fevereiro «a percentagem de Portugal continental em situação de “seca extrema” estava entre os 40 e os 45 por cento». O relatório, que analisa a situação até 15 de Março, indica que «em relação a 28 de Fevereiro verificou-se um aumento de cerca de 15 por cento de território afectado por seca extrema». O mesmo documento indica que todo o litoral português excepto nas zonas litorais do baixo Alentejo e do Barlavento Algarvio estão numa situação de «seca extrema». Também o sotavento algarvio, mais de metade do Baixo Alentejo, o Alto Alentejo e cerca de metade da zona das Beiras estão na mesma situação. O resto do país, excepto uma zona do Nordeste com «seca moderada», está em situação de «seca severa».

Luis Martins

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