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Relato impressionante de passageira de autocarro cercado pelas chamas no IP3

Um autocarro da Transdev, que fazia a ligação entre Viseu e Coimbra, ficou cercado pelas chamas, no domingo, no IP3, perto de Santa Comba Dão. Mafalda Lírio, estudante de Direito natural de Viseu, era uma dos 48 passageiros que seguiam a bordo e descreveu o que viveu na sua página de Facebook. Transcrevemos aqui o seu relato:

«Esta noite [domingo] passei pelo momento mais horrível e assustador da minha vida. Por volta das 18h30, no percurso de autocarro Viseu-Coimbra, fomos confrontados por uma parede de fogo.

Incapazes de voltar atrás, o nosso condutor, o senhor Eduardo Dona de Couto, da Transdev, fez uma escolha incrivelmente corajosa e pela qual todos os passageiros daquele autocarro estão agora eternamente agradecidos.

Não podendo voltar para trás, tínhamos apenas duas opções, ficar ali parados à espera que o fogo nos consumisse ou entrar pela parede de fogo a dentro, e foi isto mesmo que o nosso condutor fez. Apesar do pânico que rapidamente se fez sentir, das chamas que até por cima de nós passavam, do calor infernal, da falta de oxigénio, continuou a conduzir.

Pouco tempo depois, encontrámos um grupo de 2 ou 3 bombeiros rodeados igualmente pelas chamas, que acabaram por nos seguir e nos alertaram para o facto do nosso autocarro estar em chamas.

Foi-nos instruído que o abandonássemos, no entanto, com o pânico muita gente começou a ir na direção de Coimbra sem saber que a pior parte deste incêndio se encontrava nessa direção. Felizmente, conseguimos encontrar todas as pessoas que se tinham afastado e depois, com o auxílio da GNR, dirigimo-nos para uma ponte onde outras centenas de pessoas se encontravam.

Infelizmente eram demasiados os rostos familiares que se encontravam naquela ponte e naquele autocarro, o que tornou tudo muito mais pessoal e marcante. Aí ficámos em “segurança” durante algumas horas, racionando uma meia dúzia de garrafas de água que teriam de ser partilhadas por cerca dos 50 passageiros do nosso autocarro.

Apesar de ter sido este o ponto mais seguro que encontrámos, nem de perto nos sentíamos seguros, o fogo impedia que voltássemos atrás ou que prosseguíssemos para a frente.

O cenário de destruição, as dezenas de casas que, à nossa volta, incendiavam lentamente, o facto de muitas vezes termos ficado impedidos de comunicar com as nossas famílias e amigos e os momentos de maior pânico, em que as pessoas chegaram a abandonar os seus carros e a fugir na direção oposta, apesar de nesta também não haver saída, são recordações que gostaria de nunca ter, mas que vão passar a fazer parte de mim.

Gostava de agradecer ao nosso espetacular condutor, mais uma vez o senhor Eduardo, ao bombeiro Cláudio, de Santa Comba Dão, e aos seus companheiros que não tive o prazer de saber o nome, aos maravilhosos passageiros que me acompanharam e às restantes autoridades que, felizmente, nos retiraram daquele pesadelo sãos e salvos.

Quanto aos restantes indivíduos que se encontraram naquela situação, espero que estejam sãos e salvos e de volta aos vossos lares.

Muito obrigada e uma boa noite. E coragem para aqueles bombeiros, agentes da autoridade e pessoal de saúde que ainda se encontram a combater aquele e todos os incêndios que assolam o nosso país neste momento. Estamos convosco!».

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