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Reformas e TSU: a malta quer comer sem pagar

No balanço destes anos de crise, aquilo que mais me custa é o triunfo do choradinho no espaço público, um choradinho fingido e demagógico que não quer saber da coerência. As pessoas querem uma coisa e o seu contrário, criticam o tal “capitalismo de casino” mas depois recusam qualquer austeridade que tente separar o país do excesso de crédito , criticam uns alegados “neoliberais” mas exigem um modo de vida dependente do sistema financeiro. No mesmo sentido absurdo, a malta critica o corte nas pensões mas depois também critica a subida da TSU, ou seja, quer sol na eira e chuva no nabal, quer comer sem pagar.

A coerência não é um pormenor. Estou contra este aumento da TSU porque defendo a redução das pensões mais altas. É a despesa que deve descer, não é a receita que deve aumentar. O problema está no valor mais do que inflacionado de muitas reformas calculadas no pressuposto de que existiria sempre um rácio elevado entre trabalhadores e reformados. Como se sabe, a realidade é bem diferente. Neste momento, Portugal tem 1.4 trabalhadores para 1 reformado. Portanto, aumentar a TSU não é apenas adiar o problema financeiro da segurança social, é fomentar ainda mais a injustiça geracional, é beneficiar a Dra. Ferreira Leite, o Dr. Bagão Félix e o Dr. Aníbal em detrimento da maioria da população, a começar nas crianças e, já agora, na maioria dos reformados. Convém recordar que os cortes nas pensões estavam concentrados nos 10% dos reformados mais abonados. A Dra. Ferreira Leite não fala em nome dos meus tios e tias que recebem 300 ou 400 euros de reforma, aliás, a Dra. Ferreira Leite é uma adversária dos interesses dos meus pequenos reformados.

A coerência não é uma opção, é a lei da gravidade do debate. Se a malta acha que as reformas mais altas não podem ser cortadas, então só tem um caminho a seguir: defender a subida massiva da TSU (estes 0.2% são tremoços). Os advogados dos reformados abonados, por exemplo, deviam ser os primeiros a defender um aumento enorme da TSU, porque apenas esse aumento pode suportar a médio-prazo as reformas sem cortes. No fundo, aqueles que durante estes três anos passaram a vida a criticar os cortes deviam ser os primeiros a beijar os pés de Passos após este cobarde aumento da TSU e do IVA.

Por: Henrique Raposo

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