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Recuperação da Casa Cisterna ainda aguarda aprovação do IPPAR

Obras em Imóvel de Interesse Público estão paradas há mais de um ano e projecto já foi chumbado três vezes

«Espero que cheguemos a consenso sobre a recuperação da Casa Cisterna, senão nunca mais mexo naquilo». O aviso é feito por António Moreira, proprietário da Casa Cisterna, edifício localizado nas traseiras da Câmara da Covilhã e classificado como Imóvel de Interesse Público, que disse a “O Interior” estar farto de «ver o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) chumbar projecto atrás de projecto». «Já não tenho idade para suportar estas coisas», desabafa, ao ter sido confrontado pela terceira vez com a reprovação da proposta de recuperação daquele edifício em ruínas há mais de um ano para o transformar numa casa destinada à habitação e ao comércio.

O objectivo é fazer nascer naquele monumento do século XV cinco apartamentos T0 ou T1 para estudantes e uma taberna típica, à semelhança das que existem nos centros históricos de Lisboa, Porto ou Coimbra. A iluminação da cisterna, que poderá ser envidraçada, e um maior cuidado com o jardim anexo também estão na mente de António Moreira, que estima gastar ali mais de 200 mil euros. Contudo, o desejo do proprietário tem sido constantemente travado pelo IPPAR que, na sua opinião, «tem colocado problemas atrás de problemas» ao projecto. Há mais de um ano que as obras estão paradas por terem existido demolições na fachada sem o devido acompanhamento de técnicos especializados. Em Março passado, o proprietário ainda aguardava a apreciação do projecto que tinha sido entregue ao IPPAR, depois de ter sido reformulado esteticamente a pedido daquela entidade de preservação do património. Quatro meses depois, o projecto voltou a ser reprovado, o que levou mesmo António Moreira a deslocar-se a Lisboa para falar com o vice-presidente do IPPAR e a «ameaçar chamar a televisão» para expor a situação caso o director da delegação regional de Castelo Branco não se deslocasse à Covilhã para debater os «pontos de vista» com o proprietário e a projectista.

«Chegou-se mais ou menos a um consenso» sobre algumas alterações a efectuar no projecto, diz, esperançado que seja aprovado desta vez. Caso contrário, o edifício datado do século XV continuará em ruínas em pleno centro histórico da cidade. «Não pretendo tirar partido daquilo», esclarece, adiantando que o interesse em recuperar o imóvel se deve a «uma questão sentimental». Além disso, a recuperação daquele edifício seria uma forma de revitalizar a zona velha da cidade. Daí que «todo o apoio da autarquia», ao contrário do IPPAR a quem “aponta o dedo” por «não ajudar» nem dar o «apoio» necessário para a reconstrução das habitações no centro histórico. A falta de acompanhamento técnico de um arqueólogo da responsabilidade do Estado é a maior crítica do dono da casa. José Afonso, director da delegação regional de Castelo Branco daquela entidade supervisora e de protecção do património, rejeita as críticas e diz que o projecto apenas foi chumbado por causa «das irregularidades cometidas pelo promotor», nomeadamente a demolição de uma parte da casa sem acompanhamento técnico. «O problema não está no IPPAR, mas em não se ter respeitado a legislação». Uma “culpa” que, de resto, o proprietário já tinha reconhecido a “O Interior” em Março último. Apesar do projecto ainda não ter dado entrada no IPPAR por estar a ser reformulado – o que deverá acontecer dentro de dias – José Afonso espera que o assunto seja resolvido para «bem da cidade». «Há vontade do promotor e das várias entidades, pelo que se o projecto reunir as condições necessárias será viabilizado», promete.

Liliana Correia

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