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Recriação histórica atrai milhares a Almeida

Batalha travada entre as tropas anglo-lusas e de Napoleão foi reconstituída na manhã de domingo perante centenas de espetadores

A recriação histórica do cerco de Almeida, realizada no passado fim-de-semana, voltou a atrair vários milhares de pessoas dos dois lados da fronteira durante os três dias da atividade. Dois dos pontos altos das comemorações deste acontecimento ocorrido há 203 anos tiveram lugar na noite de sábado e na manhã de domingo, com a recriação das duas batalhas mais emblemáticas das invasões francesas.

No domingo, centenas de curiosos não quiseram perder pitada dos combates que tiveram como pano de fundo a fortaleza e a antiga praça-forte, desenrolando-se entre os Baluartes de São Pedro até ao de Santo António. No campo de batalha houve muitos disparos de espingarda, tiros de canhões e mesmo combates corpo-a-corpo com baionetas, mas tudo acabou em bem e mesmo os soldados “mortos” rapidamente se levantaram e continuaram a combater para gáudio da numerosa assistência. Maria Araújo, residente na Guarda, embora seja originária da freguesia da Malhada Sorda, foi de propósito a Almeida para assistir às recriações de sábado e domingo e não deu o tempo por mal empregue: «Adorei, acho fantástico e penso que devem continuar. É o segundo ano que venho ver, mas ainda não conhecia esta parte da batalha, de manhã, e gostei imenso. Acho que este ano têm mais figurantes», sublinhou.

Natural de Peva, Adelino Gonçalves reside atualmente em Lisboa e aproveitou as férias para assistir à recriação pela primeira vez: «Foi muito interessante, não só para os mais velhos, mas principalmente para os jovens poderem fazer um bocadinho da ideia do que foram as invasões francesas», declarou. Também os figurantes ficaram agradados com o resultado final da recriação, como Joaquim Guedes, oriundo do Porto, mas membro do Grupo de Recriação Histórica do Município de Almeida. O “comandante do Regimento de Artilharia 4” português já é um “veterano” nestas andanças e considerou que a “batalha” correu «bastante bem», pois «não houve acidentes e todos se divertiram, o que é o mais essencial de tudo», frisou. A recriação foi protagonizada por cerca de 300 figurantes, a maior parte oriundos de Espanha e Portugal, embora também tenham participado belgas, holandeses e ingleses.

O presidente da Câmara de Almeida mostrou-se satisfeito com a adesão de «largos milhares de pessoas», destacando o espetáculo da recriação noturna. «Vem atraindo cada vez mais gente e terá sido a mais participada de sempre, até porque houve o trabalho de escolher um cenário diferente [junto ao Picadeiro] para que isto não se torne repetitivo», declarou Baptista Ribeiro. Entre a assistência houve portugueses e também «muitos espanhóis», com o edil a realçar que o município «tem vindo a fazer uma aposta forte de promoção» no país vizinho, pois os espanhóis são «um público-alvo importante para a dinamização do comércio e da restauração». Para o autarca, a recriação do cerco «é um grande impulso para a economia local, acontecessem mais momentos como este e tudo funcionaria de forma diferente para bem da recuperação económica do país e desta região».

De resto, Baptista Ribeiro considera que, «depois de Waterloo, onde participam quatro mil recriadores, Almeida tem um lugar de destaque não só pelo número de recriadores, mas também pela fidelidade com que isto se realiza», porque, «embora amadores, fazemos isto com muito profissionalismo».

Intenção de tornar Almeida Património Mundial continua viva

À margem das comemorações do cerco, o autarca reiterou que o município tem em curso o procedimento de candidatura da antiga praça-forte a Património Mundial: «Estou a trabalhar para isso. Quero que Almeida entre na lista indicativa da UNESCO e creio que o vamos conseguir até ao final do ano», realçou Baptista Ribeiro. Para tal, há «muito trabalho feito» e a representante e o embaixador de Portugal na UNESCO sabem da pretensão do município e «também acarinham» a ideia. «É muito provável que Almeida avance com uma candidatura individualizada, mas que depois será tomada em série, numa outra escala», envolvendo outras autarquias nacionais e espanholas da zona de fronteira, acrescentou.

Ricardo Cordeiro Não faltaram muitos disparos de espingarda e tiros de canhões, mas tudo acabou em bem

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