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Bilhete Postal

Tanto me faz – não pode ser verdade! Entra por um ouvido e sai por outro – não acredito, fica lá sempre um resíduo. Sou muito nervosa – nasceste com saco de nervos e outros não.

Os teus direitos são maiores que os meus? Levas o teu cão sem trela porque sim! Gritas debaixo do meu prédio porque estás contente. Que importo eu? Não colocas o cinto porque não te apetece. Ligas para a mãe porque te preocupas mais que todos – mesmo ao volante. Escreves no livro de reclamações porque no teu trabalho és uma estrela. Não gostas de esperar, porque por ti não esperou ninguém. Não há como os filhos dos outros para desinquietar o teu porque o teu é um doce. O teu menino nunca aborreceu ninguém – mesmo que tu não o vejas dias seguidos. Fazes petição contra os circos. Tens peixes grandes em aquários minúsculos. O teu cão vive na varanda e não o levas ao jardim. Levas a bata imunda do Hospital ao parque de estacionamento, mas estás na comissão de infeções. Ontem obrigaste vários a lavar as mãos. Estacionas no lugar dos deficientes – tens pressa. Usas bengala para mentir nas prioridades – a tua urgência é a mais importante. Subscreveste a eutanásia do teu pai mas foste contra a dos cães que morderam os meninos. Não queres fumo no restaurante onde chegaste aos gritos com a mulher e exuberantemente bêbado. Tu tens sempre razão e decides bem. Tu tens poucas dúvidas e podes escolher por mim. Há trinta anos que estás no sindicato e trabalhaste, como nós, dois anos. É tudo por nós que não reconhecemos nem agradecemos. Bolas!

Por: Diogo Cabrita

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