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Radiofármacos

mitocôndrias e quasares

Quando observamos os resultados dos diferentes estudos sobre ciência e tecnologia verificamos que os temas que mais interessam aos cidadãos estão, regularmente, relacionados com o ambiente e com os avanços na medicina (ver Eurobarometer – Europeans, Science and Technology. Junho 2005). Este interesse pelos avanços científicos e tecnológicos na área da saúde reflecte a procura de uma melhor e mais eficiente prestação de cuidados de saúde que se possam traduzir numa melhoria da qualidade de vida.

Neste sentido, a ciência e a tecnologia procuram centrar a sua investigação no desenvolvimento de novos instrumentos na área das ciências da saúde. Um bom exemplo desta evolução é medicina nuclear.

A medicina nuclear é uma disciplina que permite, aos médicos, obter informação de diagnóstico, que muitas vezes não é conseguida por outros meios.

Quando se realiza um diagnóstico em medicina nuclear, uma forma química especifica de um isótopo – átomo de um mesmo elemento que têm diferente número de neutrões – emissor gama é injectado no doente com o intuito de se instalar no órgão a estudar. Esta espécie química onde o radioisótopo é incorporado designa-se por radiofármaco.

A evolução do radiofármaco ao longo do organismo é acompanhada através de um detector que raios gama que fornece imagens bidimensionais ou tridimensionais do órgão em estudo. Esta visualização permite obter informação acerca da morfologia e função do órgão.

Estes testes de medicina nuclear permitem ainda obter informação acerca do estado fisiológico e bioquímico do órgão, uma vez que é possível acompanhar o modo com o radiofármaco é processado pelo órgão.

A maioria dos radiofármacos modernos envolve o isótopo tecnécio-99m (o “m” significa meta estável, o que corresponde a um estado nuclear particular com uma dada energia).

As propriedades nucleares do 99mTc são adequadas ás exigências do diagnóstico de medicina nuclear. A radiação raios gama emitida pelo 99mTc tem uma energia que é suficientemente elevada para atravessar o corpo e suficientemente baixa para poder ser capturada. O 99mTc não emite radiação (partículas alfa e partículas beta) que originariam uma dose radiação nuclear muito elevada para o paciente.

Com este isótopo é possível visualizar o coração, de forma a permitir ao médico determinar se as diferentes regiões do coração recebem suficiente, insuficiente ou nenhum fluxo sanguíneo. A informação obtida é usada para avaliar o estado do paciente e posterior intervenção médica.

Para além do coração, existem outros radiofármacos utilizados na visualização do cérebro. Para atingir tal objectivo, estes radiofármacos devem, por um lado, atravessar a barreira hemato encefálica, um conjunto apertado de células que não permite a passagem de moléculas volumosas, carregadas electricamente ou hidrófilas, e por outro, permanecerem o tempo suficiente do cérebro para permitir uma imagem a três dimensões.

Um radiofármaco que permite realizar esta tarefa é o HM-PAO-99mTc, que tem com características principais ser uma molécula pequena, neutra e lipofílica, que uma vez no cérebro, decompõe-se rapidamente num produto relativamente hidrofílico que não pode sair da barreira hemato encefálica.

Os radiofármacos são uns dos vários exemplos nos quais a investigação e desenvolvimento científicos ao avançar por caminhos áridos e pouco explorados têm diante de si novos e aliciantes desafios!

Por: António Costa

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