As obras que a Câmara da Guarda está a realizar junto à rotunda do antigo matadouro, na confluência das ruas Cidade de Bejar, Cidade de Safed e António Sérgio, vão pôr fim a um dos espaços mais emblemáticos da Guarda: o Quiosque do Matadouro ou da “Ti’ Jaquina”, como é popularmente conhecido.
A dona do estabelecimento, Joaquina Escada, de 84 anos, mostra-se inconsolável com o fim anunciado do seu estabelecimento, no qual trabalhou «durante quase toda a vida». Natural do Marmeleiro, a comerciante trocou a vida no campo pelo negócio na cidade há cerca de 35 anos. «O quiosque estava aberto há dois anos quando o comprei a uma prima por 200 contos», recorda. Daí para cá, os dias de Joaquina Escada foram passados atrás do balcão, vendendo bebidas, cafés, chouriço, queijo, produtos regionais, frutas e gás, entre outros artigos. Esta comerciante octogenária sente por isso que já «criou raízes» no local e diz-se «triste» perante a perspetiva de ficar sem este espaço, confidenciando que «mesmo a população diz que o quiosque vai fazer falta. As pessoas passam, param e convivem um pouco e são da opinião de que não devia fechar, pois tem uma identidade muito própria e faz parte da cidade», declara.
Já em relação às obras, Joaquina Escada diz «concordar com o povo», para quem «as obras só fariam sentido se abrissem uma estrada até à VICEG. Agora, para quê fazer um largo e uma rotunda se já aqui há uma rotunda?», questiona. «Reconheço que era preciso tirar a água, mas para isso bastava colocar manilhas, como já fizeram, tapavam e estava a obra feita», acrescenta.
Contudo, a comerciante sabe que «não há nada a fazer», porque «o terreno é da Câmara, que o quer de volta para fazer as obras que entende», adiantando que reuniu com a autarquia no passado dia 15 de maio. «Mas não se resolveu nada. Só me foi dito que não tinha direitos nenhuns, porque precisam do terreno e isto é deles», declara. Joaquina Escada diz que lhe foi dado um prazo que, a ser cumprido, obrigaria o quiosque a «fechar agora mesmo», mas depois de recorrer a um advogado e pedir «mais algum tempo», esse prazo foi alargado «até meados de outubro».
Em alternativa, a comerciante revela que a autarquia lhe ofereceu «um cantinho, mais abaixo», para continuar o negócio, que rejeitou por «não ter espaço para estacionamento» e porque «teria de fazer a obra. Só que eu não tenho dinheiro e a Câmara também não, e mesmo que tivesse penso que não estariam na disposição de a financiar», afirma. Assim, daqui a sensivelmente dois meses, o desfecho previsível é «deitarem a barraca abaixo», não restando outra alternativa a esta comerciante que não seja «fechar a porta e ir embora para casa», colocando um ponto final numa história de quase quatro décadas.
Rotunda ficará com o triplo do tamanho
Em resposta enviada por email a O INTERIOR, o gabinete de Relações Públicas da Câmara da Guarda escusou-se a falar sobre a situação do “Quiosque da Ti’Jaquina”, esclarecendo apenas que a intervenção que está a ser realizada se enquadra no Programa Estratégico de Regeneração Urbana, que pretende contribuir para «a dinâmica e a competitividade» da cidade, adiantando ainda que outras obras vão ser lançadas nos próximos meses. Neste âmbito, «todas as ruas e rotundas do “Arco Comercial” serão objeto de intervenções à superfície e no subsolo», enquanto ao nível da rua haverá uma pavimentação diferenciadora nas zonas de estacionamento e novos arranjos paisagísticos, bem como uma requalificação das faixas rodoviárias e dos passeios, com alargamentos pontuais e nova iluminação pública. No caso da rotunda da Ti’Jaquina, a autarquia refere que «estão em curso os primeiros trabalhos preparatórios que transformarão por completo essa placa giratória no acesso ao centro da cidade».
Segundo o município, a rotunda terá, no final dos trabalhos, um «tamanho três vezes superior ao atual» e ficará alinhada com o eixo das vias que serve, «melhorando a fluidez do trânsito neste importante ponto da cidade» e dando também «um exemplo da nova imagem urbana da cidade ao nível dos arranjos paisagísticos». Entre as futuras obras, a autarquia destaca a construção de um jardim ao fundo da Rua Almirante Gago Coutinho, onde existe «um espaço público sem intervenção urbanística» que será transformado num «espaço de lazer com uma fonte». Dada a acentuada diferença de cotas, o espaço prevê também «uma cascata e zonas verdes em socalcos». A empreitada do “Arco Comercial” foi adjudicada em maio do ano passado ao consórcio formado pelas empresas António Saraiva e Filhos e Albino Teixeira por pouco mais de dois milhões de euros, o valor mais baixo apresentado no âmbito de um concurso público, cujo preço-base era de 2,7 milhões.
Fábio Gomes
Comentários dos nossos leitores | ||||
---|---|---|---|---|
|
||||
|
||||