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Quinta Carta

Cartas da Faculdade

Maria João Pinto *

Por mais impotente que o ser humano seja em relação ao Mundo e à Natureza, há algumas coisas de que pode estar certo. As palavras óbvias que nos vêm à mente – nascimento e morte – são os maiores representantes desse grupo, contudo, não é sobre eles que esta crónica se baseia. Não, esta quinta carta, a última, fala dessa grande aventura que medeia esses dois acontecimentos: crescer. Porque, no fundo, é a isso que a Faculdade nos obriga.

Quando cheguei a Coimbra, em setembro, não conseguiria imaginar o quão a minha vida mudaria ao longo dos meses que se seguiriam. Mais do que isso, seria incapaz de pensar que essa transformação abarcaria tantas e tão diferentes áreas – afinal, andar na Faculdade é muito mais do que ser estudante. Portanto, parece-me pertinente fazer uma referência àquele que é, talvez, o momento pelo qual qualquer estudante da Universidade de Coimbra espera ansiosamente: a Queima das Fitas.

Uma semana sem aulas, com concertos e saídas com os amigos e colegas, todas as noites, já é bastante apelativa por si só. No entanto, a Queima é mais do que isso, especialmente para aqueles que a presenciam e vivem pela primeira vez. É, pois, compreensível que a semana que antecede a Serenata já gire em torno desse tão ansiado acontecimento. Poucos são aqueles que se conseguem abstrair e nem as avaliações são capazes de minar o entusiasmo geral.

Para nós, caloiros, a Serenata marcou a primeira noite em que vestimos a Capa e a Batina, em que os nossos padrinhos nos Traçaram a Capa, em que sentimos o Fado de Coimbra dentro de nós, fazendo vibrar cada molécula nossa, à medida que íamos recordando todas as peripécias passadas. Foi um misto tão complexo de sentimentos… Tentar convertê-los para palavras, meras palavras, revela-se uma tarefa tão redutora… Assim, terá de ficar a cargo do leitor tentar cogitar o que um caloiro sente nessa altura, ou até no dia do Cortejo, quando está prestes a passar a Tribuna, deixando para trás meses de vivências, Praxe, amigos, exames, aulas, gargalhadas, jantares, aflições, medos, triunfos: todo um conjunto de memórias – as provas do nosso crescimento.

Agora, resta a memória dos momentos passados e a esperança de que, para o ano, Coimbra se volte a cobrir de negro. Até lá, é preciso voltar às antigas rotinas e sobreviver a mais uma época de exames – uma tarefa que se apresenta como ingrata, depois de tanta alegria, mas inadiável. Assim, é tempo de voltar à realidade e cumprir o nosso papel, sem, contudo, perder a certeza de que esta Queima das Fitas, a primeira, será sempre recordada.

Saudações académicas,

* Ex-aluna da ESAA, estudante da Fcauldade de Medicina de Coimbra

Sobre o autor

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