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«Queremos que nos abram as portas no mercado internacional»

Cara a Cara – Luís de Matos

P – O primeiro lugar na final internacional do concurso promovido pela Fundação Altran para a Inovação é mais um importante impulso para o projeto wi-GO?

R – Sim. Este género de concursos é muito importante para nós porque contemplam uma parte internacional. Já tínhamos ganho muitos prémios nacionais. Contudo, o nosso mercado é o internacional. O mercado português é muito pequeno para nós e não tem a escala que necessitamos. Chegámos a um determinado ponto em que quisemos apostar na nossa internacionalização e como não tínhamos dinheiro e tínhamos poucos recursos, a estratégia que adotámos foi precisamente a de participar em concursos internacionais. Começou com o Imagine Cup da Microsoft, que também ganhámos lá fora, e agora também com o da Altran. Ou seja, ganhámos o da Altran a nível nacional, o que nos deu acesso à final internacional que ganhámos e é importante para nós, no sentido em que passamos a ser conhecidos lá fora e conseguimos entrar em contacto com a rede de parceiros que eles possam ter para nos ajudar precisamente nessa tarefa de arranjar, não só investidores, mas sobretudo clientes, que é o que pretendemos.

P – Em que consiste o prémio?

R – O prémio nacional dava-nos seis meses de consultadoria técnica especializada por parte da Altran. Durante esse período vamos ter cá uma pessoa da Altran numa área específica em que tenhamos necessidade. O concurso internacional dá mais seis meses de consultadoria noutra área qualquer promovido pela Altran internacional, isto além do seu presidente vir a Portugal conhecer-nos, fazer a cerimónia de entrega do prémio e daí podem surgir também excelentes contactos.

P – Não é a primeira vez que o projeto é distinguido internacionalmente. São distinções que lhe poderão abrir as portas de outros mercados?

R – Acima de tudo queremos que nos abram as portas no mercado internacional, que as empresas nos conheçam lá fora também para nos solicitarem e para conseguirmos colocar o produto o mais rapidamente possível no mercado. Queremos começar logo numa escala mundial, porque é muito mais rápido de atingir o mercado.

P – Para quem não conhece o projeto. Em que consiste o wi-Go?

R – Basicamente o wi-Go é um carrinho de compras para pessoas com mobilidade reduzida. O utilizador não precisa de empurrar nenhum carrinho, nem trazer nenhuma cesta, nem colocar as compras no colo, por exemplo, como acontece em muitos dos casos connosco, que estamos em cadeira de rodas. Quisemos que não houvesse necessidade absolutamente nenhuma de empurrar o carrinho e, nesse sentido, desenvolvemos uma mecanismo que segue a pessoa. O utilizador não tem nada com ele, nenhuma roupa especial, nem nenhum sensor. Não tem nada que limite a sua marcha, mas está automaticamente reconhecida pelo nosso sistema. Utilizamos tecnologia da Microsoft que permite reconhecer pessoas e movimentos e sabemos que é aquela pessoa a seguir e não outra. Isto permite uma mobilidade acrescida, porque só tenho que retirar as compras da prateleira e colocar dentro do wi-Go. Só que é mais do que isso, porque desenvolvemos um sistema que pode ser aplicado noutras áreas. Escolhemos um carrinho de compras porque são estratégicos para mostrar o conceito e como eu sentia dificuldade em ir às compras foi daí que surgiu a ideia. Mas o sistema pode ser aplicado nos aeroportos no transporte de bagagens, na própria residência para transporte de produtos de uma divisão da casa para a outra. Também pode ser aplicado, por exemplo, em questões mais industriais ou nos hospitais para transporte de roupas, de medicação ou de comida. Ou seja, tem uma aplicabilidade diversa, não é só um carinho de compras. Não vamos desenvolver carrinhos de compras, vamos desenvolver o sistema que pode ser acoplado aos carrinhos de compras.

P – Quando é que pensam lançar o projeto-piloto?

R – Nos próximos quatro, cinco meses esperamos estar com o projeto-piloto em Portugal com, pelo menos, cinco unidades nalgumas superfícies comerciais para testarmos e recebermos o “feed-back” dos utilizadores, mas também para termos o “feed-back” do nosso hardware, das placas eletrónicas, dos sensores e da programação, coisa que ainda só tivemos com um único protótipo e que vamos fazendo internamente. Embora já o tivéssemos testado em ambiente real, não é a mesma coisa. No final desse processo, teremos o produto final completamente pronto a vender para qualquer ponto do mundo.

P – E quando é que o projeto poderá começar a ser comercializado e serem vendidas as primeiras unidades?

R – Contamos que até ao final do ano o projeto já esteja no mercado nacional e já com contactos internacionais, que é um dos nossos objetivos. Não temos um país de eleição, mas claro que queremos a Europa e a América por questões comerciais. Mas não temos um país onde vamos apostar mais porque todos são nossos potenciais clientes.

P – Há outro tipo de projeto em mente?

R – Sim, para além do wi-GO, a nossa unidade de investigação já está a preparar novos projetos. Já fazemos publicidade interativa, utilizando a tecnologia que o wi-Go tem, em que podemos fazer com que a pessoa, por exemplo, interaja com uma montra com o movimento do nosso corpo em vez de ser pelo toque. Elevámos um bocado a fasquia e também fomos obrigados a entrar nesse mercado por questões financeiras porque precisávamos de dinheiro para investir no projeto. Além disto, estamos a criar também uma sistema virado para a saúde que, a curto prazo, sairá mais em pormenor.

Luís de Matos

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