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Quem vier depois que feche a porta!

Editorial

1. Ao cortar os subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos e pensionistas (2012), o Governo iniciou o obrigatório caminho de redução da despesa pública. Muito se tem dito sobre a equidade dos cortes serem feitos só na função pública. E muitos comentadores e “especialistas” criticam a medida, considerando inaceitável que apenas os funcionários públicos sejam sacrificados. Porém o que parece que muita gente se esquece é que o Estado está falido e o “patrão” dos funcionários públicos é o Estado e só pode pagar os salários com o empréstimo da “troika”. Como em qualquer outro sector, quando o patrão não tem dinheiro, tem de cortar na despesa e na despesa com pessoal. A diferença é que, no privado, quando o patrão está falido não se pagam salários e os trabalhadores são despedidos; no público, aumentam-se os impostos sobre a economia para poder suportar a despesa e mantém-se os empregos. Desta vez, o patrão Estado foi resgatado pelo FMI e pela UE para ter dinheiro para pagar os salários dos trabalhadores, mas não chega para lhes pagar os subsídios. Como corta pouco na despesa e não despede, como irá fazer nos anos seguintes?

2. O Hotel de Turismo da Guarda encerrou há ano e meio. Num abissal erro de gestão, o executivo municipal da Guarda vendeu, por três milhões e meio, um património de excelência, uma referência hoteleira regional, um símbolo da cidade e de um estilo arquitetónico. Nem sequer foi vendido pelo melhor preço, como tantas vezes já se repetiu, mas o que é verdadeiramente hilariante neste negócio é que a Câmara recebeu apenas metade do dinheiro; e que esse dinheiro foi logo utilizado não para investir ou para pagar dívidas (nem sequer as que a sociedade Hotel de Turismo deixou e que transitaram para a Câmara), mas para comprar o edifício do “Bacalhau”, que a autarquia se comprometeu a ceder à Ensiguarda. Ou seja, nem sequer se trata de vender os anéis e ficar com os dedos, trata-se de vender os anéis e cortar os dedos… e quem vier depois que feche a porta.

Quanto à miragem de uma escola de turismo no Hotel, «de nível superior», que dizer, agora que o presidente do Turismo de Portugal foi exonerado? Por quantos anos vai ficar abandonado o Hotel de Turismo? Quando é que a Câmara vai receber o resto do dinheiro? Em fevereiro? E que destino lhe dará? E o edifício, que jaz e apodrece, vai continuar abandonado até ruir? E ninguém é responsabilizado pelo crime de lesa património contra o interesse público da Guarda?

Luis Baptista-Martins

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