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«Quem olhar para a minha casa pensa que é um barracão do meu vizinho»

A Câmara de Manteigas pede mais de 30 mil euros pela última casa de que é proprietária no Bairro de Santo António (Manteigas), mas o arrendatário defende que o imóvel não vale mais que 7.500 euros porque está em avançado estado de degradação.

Apenas uma das casas do Bairro Santo António, de habitação social, ainda é propriedade da Câmara de Manteigas: o T3 de Marco Soares. A habitação pertencia aos seus pais, que nunca a conseguiram adquirir como fizeram os restantes moradores. Todavia, os 30.900 euros pedidos agora pelo município são «inaceitáveis» na opinião do manteiguense, que apenas recebe o Rendimento Social de Inserção (RSI).

«Quem olhar para a minha casa pensa que é um barracão do meu vizinho tal é o estado lastimável em que se encontra», disse Marco Soares a O INTERIOR. O arrendatário vive naquele bairro há quase 36 anos e pretende adquirir a casa, mas não pelos valores apresentados pela autarquia. Em carta enviada ao município na passada segunda-feira, o inquilino defende que a quantia não deve ser superior a 7.500 euros e assume as despesas adicionais na recuperação da edifício, que estima situarem-se nos 15 mil euros. «Precisa de obras, nomeadamente na canalização e eletricidade. O telhado é de zinco, que é uma vergonha, mas sempre me negaram ajuda», recorda o morador, acrescentando que não poderá realizar qualquer intervenção sem a devida autorização do município.

Segundo Marco Soares, o problema «arrasta-se» há 10 anos e não se resolve por «falta de vontade» da autarquia. O munícipe queixa-se também de não ter qualquer passagem nos acessos à habitação: «Nunca poderei fazer uma garagem e quando os bombeiros cá vieram auxiliar os meus pais tiveram dificuldades em movimentar a maca», adianta. O inquilino estava emigrado em França, mas defende que teve de regressar a Manteigas pois corria o risco de perder esta casa. Atualmente, paga uma renda de cerca de 8 euros mensais à autarquia, mas reitera que não se importaria de pagar «30 ou 40 euros, se assim se justificasse». Marco Soares diz ter ainda suportado «uma despesa de 600 euros, sem apoio da autarquia», por causa de uma rutura na canalização: «Pedi ajuda ao Fundo Social, mas disseram-me que teria de abdicar por causa do pedido que tinha feito para comprar a casa», afirma.

Também João Nunes, familiar do inquilino, defende que esta habitação «em madeira está num estado de degradação enorme. A irmã do Marco já se mostrou disponível para pagar, mas não o valor que o município pede», reitera.

A residir em Lisboa, João Nunes refere que o anterior executivo tinha pedido 20 mil euros mas não houve desenvolvimentos na negociação. O familiar pediu ainda uma audiência à presidente do PS, Maria de Belém Roseira, por considerar que «o partido é responsável pelos autarcas que escolhe», defendendo que o fez «enquanto cidadão». Confrontado por O INTERIOR com este caso, António Fraga, vice-presidente da autarquia e responsável pelo pelouro de Ação Social, disse que a Câmara está disponível para negociar «mas nunca por valores tão baixos» como os 7.500 euros sugeridos por Marco Soares.

«Pedimos uma avaliação ao Departamento Técnico, que se deslocou à casa e a avaliou em cerca de 30 mil euros», confirma o edil. Porém, o vice-presidente salienta que «o preço é estabelecido sempre pelo proprietário», acrescentado que o município está a aguardar uma contraproposta oficial do inquilino, que será depois analisada em reunião de Câmara.

Sara Quelhas Departamento Técnico da autarquia avaliou esta casa em 30.900 euros

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