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Quem Manda Aqui?

Percorro online, nos blogues e nos jornais, as notícias e comentários mais recentes. Joe Berardo está em todas: na OPV ao Benfica, na inauguração do museu com o seu nome no Centro Cultural de Belém; recordo-o ainda, um pouco mais atrás, na OPV do Milenium ao BPI. Patrick Monteiro de Barros, outro dos dez mais ricos de Portugal, é também notícia. Este insiste na construção de uma central nuclear, propondo-se agora atrair a EDP para esse projecto. O grupo BES continua a ser falado por causa do projecto de turismo de luxo para Benavente e por causa das centenas de sobreiros que vai ser preciso dizimar. Ainda há pouco, a SONAE e Belmiro de Azevedo abriam todos os noticiários.

Os grandes projectos de que se fala, OTA e TGV, interessam a todos nós e ainda mais a quem vai ganhar muito dinheiro com eles. Também por isso, por implicar um investimento muito mais pequeno, parece pouco interessante a solução Portela mais um ou mais dois. O concurso das eólicas pareceu oportuno e demonstrou uma visão estratégica de futuro (Monteiro de Barros acha que não, acha que se optou por um lóbi em vez de outro e que uma central nuclear, ao baixar dramaticamente o preço da energia, tornaria exorbitante o custo da opção pelas energias alternativas); essa visão estratégica interessou, antes de mais ninguém, a quem venceu o concurso.

De tempos a tempos, fala-se de um dos grandes empresários como possível salvador da pátria. Passados os anos de brasa, em que era quase proibido ser patrão, os mais conhecidos de entre eles assumem-se como senadores do regime. Enquanto se degrada o prestígio da classe politica, aparece em alta o dos empresários – e os vários grupos de comunicação social têm todos dono… Os políticos demissionários esgueiram-se do governo para as empresas, onde vão ganhar muito mais e recuperar a sua imagem pública.

Os empresários, em privado, não escondem o seu desprezo pelos políticos, que consideram mal preparados e demasiado ávidos, demasiado vulneráveis aos interesses dos que conhecem essa avidez e as muitas formas de a rentabilizar. Dizem que nunca colocariam um politico à frente de uma grande empresa, a não ser que a quisessem levar à falência, e que é um crime colocar à frente de uma câmara municipal, que é no fundo uma grande empresa, pessoas tão mal preparadas, com tão pouca visão e tão venais.

Cada vez mais se ouve dizer que as escolas, as câmaras municipais, as instituições públicas em geral devem ser geridas como empresas. Isto é uma forma de exigir melhor gestão, o que está certo, mas é também uma maneira de dizer que os objectivos de optimização do lucro, subjacentes à forma como as empresas são geridas, valem para todo o sector público. É também uma maneira de demonstrar que se não conhece muito bem nenhuma das realidades.

O mais importante de tudo, é ainda isto: assim como se descobriu não ser verdade que “aquilo que é bom para a General Motors é bom para a América”, também nós iremos descobrir um dia que os nossos interesses não são necessariamente coincidentes com os de Berardo ou Belmiro de Azevedo.

Sugestões:

Um livro: O Pecado de Darwin (John Darton, Casa das Letras 2007). Para quê uma longa viagem aos Galápagos se a Bíblia traz todas as respostas?

Outro: A História de Lisey (Stephen King, Bertrand Editora 2007). Há quem diga que não é grande literatura, mas mesmo assim continuo a não perder um.

Férias: Até Setembro!

Por: António Ferreira

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