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Quem espera, desespera

Editorial

1. Já todos percebemos: Os portugueses chegaram a pensar que sim, que podiam viver como os demais europeus, mas foi uma utopia, um delírio que irá sair muito caro. Na verdade, Portugal é um país pobre. Vá, remediado. Com problemas estruturais vários e complexos, com baixa produtividade (por mais horas de trabalho que coloquem no horário), com muito laxismo e pouco empreendedor – ficar à espera que os outros façam, que os outros resolvam, é o rotineiro nos portugueses (por isso aí está a troika, para resolver). Mas trabalhar de forma planificada, com objetivos e metas isso custa. Muita capacidade para desenrascar, é uma característica intrínseca aos portugueses. Orgulhosamente. O sistema entretanto faliu. E a Europa também está à beira do colapso. E quando se precisa mais de política, de ideias, de sonho para conquistar um novo paradigma, eis que temos os contabilistas europeus a tomar conta dos países. Na Grécia e em Itália chegaram à liderança dos Governos tecnocratas que em nenhum momento irão pensar nas pessoas, apenas na aritmética. Diretamente saídos das cadeiras do poder burocrático de Bruxelas serão governações condenadas ao fracasso na metamorfose necessária, mas deseja-se que tenham sucesso ao menos no desiderato da sua missão: o equilíbrio das contas públicas.

Em Portugal, o ministro das Finanças faz parte da mesma família. Tem origem em Manteigas, mas o seu lastro é de Bruxelas, e atua como um guarda-livros, um manga-de-alpaca, que só conhece o verbo cortar. Naturalmente que a irresponsabilidade dos socialistas que o precederam lhe dá razão para implementar a política do sacrifício e da austeridade. Mas será mesmo esta a melhor receita? Não haverá outros caminhos? … parece que não!

2. Ao contrário da maioria dos “pensadores” e dirigentes regionais, creio que o potencial de crescimento turístico da região é pequeno. Na verdade, e salvo uma aposta concertada e bem estruturada para o desenvolvimento do turismo cultural, em toda a sua dimensão, isto é, o património construído e natural, a história, os museus do Côa e dos Descobrimentos (Belmonte), os patrimónios mundiais da Arte Rupestre e do Alto Douro Vinhateiro, o TMG, a paisagem da Serra… pouco mais merecerá o interesse genuíno do visitante. Entre o investimento no turismo judaico que, salvo em Belmonte, só atrai judeus estrangeiros a convite e com tudo pago (e aos autarcas que se vão vergonhosamente passear às nossas custas para Israel ou Estados Unidos) e a esperança nos turistas que vierem de Itália (uma coisa estapafúrdia em cuja promoção a Câmara da Guarda investiu há uns anos), não acredito na maioria do que ouço quanto a promoção turística. É quase tudo um engodo. E caro. Mas acredito, moderadamente, num nicho em crescimento por todo o lado: o enoturismo. Na verdade, há cada vez mais pessoas dispostas a provar vinho, a degustar iguarias tradicionais, a comer gastronomia regional e repousar ou relaxar enquanto vivenciam o mundo do campo, por entre pipas e lagares, acompanhados apenas de um bom copo e um naco de pão com bom queijo. O vinho e a gastronomia (e o agroalimentar) são o que de melhor temos e melhor podemos vender. Temos é de o saber fazer. Pode não ser muito, mas é um valor seguro da nossa região, onde o vinho é cada vez melhor e os sabores com tradição voltam a merecer a prova. Por isso, por acreditar que é um nicho a desenvolver, levo anos a defendê-lo. Aos poucos, começo a ser ouvido. Amanhã, no Nerga, durante a tarde, vamos sentir o cheiro e contribuir para mais um empurrãozinho ao sector no “Turismo, Vinhos & Sabores da Beira Interior”, que desenhei.

Luis Baptista-Martins

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