Quando a cidade comemora mais um aniversário, a Câmara Municipal lança uma campanha nacional promovendo a Covilhã como uma cidade “cinco estrelas”. Talvez tenha cinco, talvez tenha mais, talvez não tenha nenhuma, depende do prisma e da boa vontade com que se olha… Mas o que não oferece dúvidas, é que no panorama político parece ter uma só estrela: Carlos Pinto.
Há muito que se diz que é uma estrela cadente, mas contrariando as notícias exageradas da sua morte política, a verdade é que é a única estrela que se mantém no firmamento da política local.
Isento de crítica? Claro que não. Antes pelo contrário. Muitas das suas opções são duvidosas. Muitos dos seus métodos são dúbios. Talvez o concelho registe muita obra mas obedeça à estratégia dos cogumelos – crescem desordenadamente, sem um propósito estratégico definido, sem um plano de futuro. Podemos nunca parar de caminhar, mas a verdade é que nunca saberemos se estamos a dar os passos certos enquanto não soubermos para onde vamos!
Muitos se perguntam qual o futuro da Covilhã? Perdeu peso na indústria. Desbaratou os serviços. Implodiu o comércio. Vive no desnorte em termos de turismo. Não se afirmou ainda no ensino e na investigação. Não são certamente estas as cinco estrelas com que a Covilhã vê iluminado o seu futuro a curto prazo. Então o que poderá levar as novas gerações a ter esperança na região e a manter-se por cá? Não tenho dúvidas que aumentou a qualidade de vida, melhoraram as infra-estruturas….mas de que me serve uma casa bem decorada se o prédio pode ruir??
Apesar de tudo, dizer que Carlos Pinto não tem uma visão de futuro e uma estratégia, é injusto. Quem o conhece sabe que ele vive para a Covilhã e a pensar a Covilhã. Mas quem o conhece, sabe também que o seu sentido prático, o conduz à acção imediata, é um homem do dia-a-dia, não do dia que há-de vir. Talvez o seu pecado seja o facto de se ter rodeado de muitos empreiteiros e pouco arquitectos do futuro. Talvez lhe tenha faltado uma equipa que trouxesse profundidade e modernismo à sua reflexão. O futuro de um concelho e a sua importância na orgânica de uma região, tem demasiados factores de análise e estudo para que possam ser ordenados pela cabeça de um só homem, por mais que sejam as suas capacidades, por mais que seja a sua inteligência, e a sua capacidade de querer servir esse concelho e essa região.
Mas quem ajuda Carlos Pinto? O PSD local perdeu personalidade própria, é uma entidade amorfa. Um carro que só sai da garagem de quatro em quatro anos, quando há eleições. O carro da oposição, por seu lado, tem sempre o motor ligado, deita gases e faz barulho, mas nunca vai a lado nenhum. A CDU é uma fotografia a preto e branco, nada muda mesmo que o tempo passe e o PS é uma lua preta no meio da noite, não se vê.
A política é, ou devia ser, uma actividade a tempo inteiro, não marcada pelos calendários eleitorais (como os católicos que só vão à missa quando o calendário marca os feriados religiosos). Carlos Pinto vive a política de noite e de dia, ninguém duvida. Por isso ganha em experiência a qualquer opositor de fim-de-semana, por isso esmaga quem se lhe opõe, por isso humilha quem o enfrenta. Será abuso do seu poder? Ou será impreparação de quem o enfrenta? É esta força devastadora e a impreparação de quem se lhe opõe que leva os partidos da oposição a não terem candidatos credíveis a um ano de autárquicas. A CDU baralha e volta a dar as mesmas cartas, é pacífico. Mas o PS que sonha ser alternativa, na terra do seu secretário-geral, passa pela vergonha de não ter candidatos credíveis. Primeiro andou a olhar para o umbigo, e a sondar os militantes Carlos Martins, Jorge Patrão, Rui Moreira… Depois virou-se para o exterior e convidou o empresário António Lopes. Depois sondou o médico Brito Rocha. Convidou e desconvidou a arquitecta Margarida Lino. Bateu à porta de Dias Rocha, ex-autarca de Belmonte. Esgotou os nomes de que falou e esgotou a credibilidade do nome que vier a ser escolhido na última hora. Será mais um sacrifício pascal no altar das eleições locais.
Mas a verdade é que uma oposição séria poderia ter obrigado Carlos Pinto a ser mais ponderado na sua acção, mais aglutinador na sua estratégia. Não tenho dúvida que uma oposição inteligente poderia ter ajudado Carlos Pinto a ser melhor presidente da Câmara do que é. Porque se é verdade que quem faz, muita vez erra, quem nada faz já errou. Foi o caso – é o caso – da oposição na Covilhã.
Nunca saberemos
Quem faz pode errar, quem nada faz já errou.
Por: João Morgado