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Que faz correr o José?

Coisas…

Para além das injustiças, inverdades, contradições e brechas de pensamento contidas na entrevista do director clínico do hospital de Sousa Martins que O Interior publicou há uma semana, há um outro conjunto de aspectos que ferem a vista do mais cego e chocam o coração mais empedernido: são eles a deselegância, a boçalidade e a falta de respeito de um médico para com os seus colegas. Deter-me-ei apenas nestes últimos aspectos uma vez que em relação aos outros pouco mais haverá a dizer.

Independentemente do que rezam os códigos deontológicos, normas de conduta ou regulamentos da actividade médica, existe sempre uma coisa chamada educação. Não invoco a elegância por que esta, ao contrário da outra, depende de certa forma da sorte ou do azar da amálgama de genes que dá origem a um determinado ser humano. Não é o caso da educação (ou da falta dela) que é uma característica totalmente adquirida nos bancos da escola, em casa dos papás, nas tertúlias, nos recreios ou nas ruas (ou até nas sedes partidárias).

A grosseria contida na tal entrevista revelou um sujeito revoltado e convencido da sua razão; anunciou um sargento com passo trocado na formatura que acusa todos os outros de marcharem mal; revelou o carácter amnésico de alguém que, ainda há muito pouco tempo, palmilhava os corredores do hospital de bata branca e mãos nos bolsos experimentando as mesmas agruras e dificuldades dos colegas que agora acusa de preguiçosos, pouco briosos e gananciosos.

As flagrantes injustiças contidas no pensamento (?) expresso pelo director clínico ao referir-se aos seus colegas obstetras, aos seus colegas em geral e a um ou outro que em particular não nomeia, desencadearam uma onda de revolta que rapidamente se transformou num outro tipo de sentimento muito mais parecido com a… repugnância. Várias foram as propostas de reacção ao que vinha publicado no jornal. Umas mais radicais do que outras; umas mais realistas, outras utópicas. Mas decorrido o primeiro momento, a sensação de revolta esbateu-se perante a constatação de que se estava perante um caso de natureza completamente distinta. De facto, tudo quanto fosse dito ou escrito em resposta directa às afirmações do director clínico, apenas serviria para lhes dar importância, correndo-se o risco de entrar no debate absurdo sobre quem tem ou não razão.

O núcleo da questão passou a ser o mais óbvio desde o primeiro instante: isto é um simples caso de falta de educação bem regado com incompetência e inaptidão natural para o exercício de funções por parte do senhor director clínico do hospital da Guarda. Da deselegância não tem culpa nenhuma.

Que faz correr um homem que tem contra si mais de 3/4 dos colegas (fora os que têm um medo que se pelam de assinar seja o que for) e que confessa estar de relações praticamente cortadas com os restantes membros do conselho de administração? O que faz correr o vice-presidente da concelhia do PPD da Guarda? O que faz correr o José?

Por: António Matos Godinho

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