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Quatro rios e um verão

Praias fluviais são cada vez mais uma alternativa para quem está longe do litoral

Na Beira Interior é o rio que toma as rédeas do verão. Mondego, Zêzere, Alva ou Côa são apenas alguns dos protagonistas dos dias mais quentes, especialmente numa região onde há demasiados quilómetros a percorrer até à costa. Longe do mar e perto da crise, as praias fluviais crescem, aumentam, multiplicam-se e são cada vez mais procuradas por quem não pode rumar ao litoral.

Em Valhelhas, no concelho da Guarda, está uma das praias com maior afluência e a única da região a ter, este ano, o privilégio de içar a Bandeira Azul. Situada no sopé da Serra da Estrela, goza de uma vista privilegiada para o maciço central, num espaço onde o verde e a água cristalina do Zêzere se misturam. O sítio atrai turistas, locais e emigrantes. Ao longo dos últimos anos, a praia – situada paredes-meias com o parque de campismo – foi sofrendo alterações, nomeadamente melhoramentos no açude e nas zonas de balneários, bares e jogos. Com o cenário a ficar cada vez mais “completo”, o número de banhistas foi também aumentando. Apesar dos dias menos quentes que caracterizaram o início deste verão, o presidente da Junta local adianta que «a afluência tem sido boa, com cerca de 600 banhistas durante a semana, enquanto no fim-de-semana o número atinge os milhares». Quem visita a praia fluvial encontra agora uma paisagem mais preenchida: «Este ano foi possível concluir a ponte pedonal que liga à outra margem», explica Paulo Carvalho.

Este era, aliás, um dos grandes objetivos da obra de melhoramento da praia, já que se pretendia dinamizar também o outro lado do rio, aumentando assim a área disponível para os banhistas. Além da nova ligação entre margens, a rampa de acesso à água teve de ser intervencionada devido aos estragos do último inverno. «Tivemos de a fazer de novo porque é muito importante para as pessoas com mobilidade reduzida e já temos até uma cadeira anfíbia para que os que possuem algum tipo de deficiência motora também possam usufruir do rio», refere o autarca. A praia de Valhelhas é vigiada entre as 10 e as 19 horas e o custo de entrada é de dois euros, apenas referente ao estacionamento. Por estes dias, há animação e atividades gratuitas dinamizadas por um ginásio de Castelo Branco.

Mais desporto nas praias

Não é preciso percorrer muitos quilómetros para um novo – mas diferente – encontro com o Zêzere. Mais acima, já em direção a Manteigas, fica a praia fluvial da Relva da Reboleira (Sameiro), junto ao SkiParque. Tem cerca de oito anos, mas só há pouco tempo ganhou nova vida, após a concessão ter sido entregue à empresa Sabores Altaneiros. Ao mesmo tempo que as praias fluviais se multiplicam pela região, nasce um público cada vez mais exigente, que já não procura apenas a beleza do espaço ou um simples momento de descanso. Tal como acontece em Valhelhas, aqui também se complementa o cenário com outros aliciantes. Canoas, gaivotas, camas elásticas, campos de volei ou de futebol são algumas das propostas para “entreter” quem frequenta o local. «Temos ainda atividades em horários definidos, como rappel, slide e escalada e abrimos a pista de esqui ao final da tarde», acrescenta Bernardo Santos, um dos responsáveis da Sabores Altaneiros.

Entre 25 e 27 de agosto, quem por aqui passar terá encontro imediato com a música do Festival Serra da Estrela, “transferido” de Valhelhas. À conta deste novo “inquilino”, o espaço não vai sofrer alterações de fundo, apenas pequenas mudanças «para tornar o terreno mais plano». Ainda no curso do Zêzere, há recantos que continuam a passar despercebidos aos olhos de quem passa. São lugares que se servem apenas da natureza e da tranquilidade que oferecem, são pérolas que permanecem em bruto. Junto à ponte de Vale de Amoreira, o rio abriga-se do sol e esconde-se entre as árvores, formando um pequeno lago, onde a água permanece quase sempre quieta – lugar ideal para quem se quer afastar do sol, sobretudo em dias de calor quase insuportável.

Entre o Alva e o Mondego, paraísos fluviais à espreita

No concelho de Manteigas, há outro rio para explorar. No início do seu curso, o Mondego recolhe-se em pleno Covão da Ponte, a 960 metros de altitude. Aproveitando as características do Parque Natural da Serra da Estrela e os edifícios cedidos pelos Serviços Florestais, o espaço não proporciona luxos, mas oferece um contato privilegiado com a paisagem ímpar e o ar livre – tão difícil de respirar noutros lugares. Apesar das curvas e das estradas estreitas que cansam muitos viajantes, a tranquilidade que o lugar oferece atrai centenas no verão. Além do Parque de Campismo e de uma casa-abrigo, há ainda um espaço de merendas, com assadores, um bar e um parque de estacionamento. Sem sair da Serra da Estrela, encontramos novo paraíso entre fragas. O Vale do Rossim, já no concelho de Gouveia, tira partido da beleza do rio Alva – que aqui forma uma lagoa – onde os tons azuis se misturam, a fazer lembrar águas de oceanos distantes. A cerca de 1.500 metros de altitude, os veraneantes dispõem de diversas possibilidades, como pernoitar numa habitação típica da Mongólia – com preços entre 45 e 75 euros -, deslizar na lagoa e praticar canoagem, explorar os percursos pedestres, praticar slide, rappel, BTT ou simplesmente desfrutar da praia. O espaço foi contemplado – pelo segundo ano consecutivo – com a qualidade de ouro, na avaliação efetuada pela Quercus, a Associação Nacional de Conservação da Natureza.

«A afluência tem estado estável», garante Júlio Barbas. O gerente do Vale do Rossim Eco Resort acrescenta que em anos de crise «é natural que muitas pessoas prefiram locais como este».

É ainda à conta do Alva que o concelho de Seia usufrui das praias fluviais de Sandomil, Loriga e Lapa dos Dinheiros. São lugares de águas cristalinas e de encostas rumo ao céu, exemplos de pequenos refúgios para milhares de banhistas nesta época. A praia fluvial de Loriga é a único do concelho a receber este ano – pela primeira vez – a qualidade de ouro na avaliação da Quercus, uma distinção que se junta à bandeira verde atribuída em 1999 pelo Ministério do Ambiente. De regresso ao Mondego e já no concelho da Guarda, chegamos a outra praia fluvial apetecível. Em Aldeia Viçosa, também se aproveita o curso do rio para atrair quem passa. O espaço perdeu, este ano, a Bandeira Azul, por a qualidade da água não ter cumprido todos os parâmetros exigidos. No entanto, o “infortúnio” não parece destruir-lhe a reputação. Além de uma zona de merendas e das atividades comuns a outros espaços similares, a praia tem ainda um escorrega aquático que faz as delícias dos mais novos.

Quem quiser conhecer um novo rio pode seguir até ao concelho do Sabugal para encontrar uma boa opção junto à cidade. A praia fluvial – que este ano tem nova concessão – aproveita as margens do Côa para oferecer frescura aos banhistas. Tiro com arco à zarabatana, canoagem, “paintball” ou escalada são algumas das atividades que preenchem os dias de quem opta pelo local.

Catarina Pinto Vale do Rossim

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