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Quatro hectares para estimular os sentidos

BeirAmbiente cria na Quinta do Ronfrio um dos quatro Jardins do Sudoeste Europeu

Não é o Jardim do Éden, mas será certamente um local paradisíaco e aprazível que vai despontar dentro de poucos anos entre a Quinta do Ronfrio e a barragem do Caldeirão, a poucos quilómetros da Guarda. O projecto está a ganhar raízes pela mão da BeirAmbiente, que quer transformar um recanto abandonado num dos quatro jardins que integram a Rede de Jardins do Sudoeste Europeu no âmbito do projecto ARBOSUDOE. Para além da Guarda, outros espaços idênticos estão a ser criados, utilizando métodos como a Permacultura, em Vila Nova de Paiva (Viseu), Modubar de la Emparedada (Espanha) e La Chaise-Dieu (França).

O Jardim do Sudoeste Europeu do Ronfrio é o primeiro projecto florestal em Permacultura a ser desenvolvido em Portugal e os seus promotores esperam que sirva de «embrião e inspiração» para muitos outros. A ideia nasceu justamente na pequena localidade espanhola, onde um grupo de cidadãos quis reabilitar uma área degradada para que pudesse servir de local de lazer para a comunidade. A iniciativa popular germinou e surge agora como uma experiência inédita de requalificação ambiental através da plantação de árvores autóctones dos diferentes territórios do Sudoeste europeu para criar um jardim botânico onde cada planta, identificada com as suas características e procedência, será tratada pelos métodos da Permacultura, técnica que aproveita as potencialidades dos elementos naturais estabelecendo um sistema de planificação que harmoniza as necessidades do homem e da Natureza. O objectivo é simples e visa promover a enorme riqueza de espaços naturais destas regiões, mas também «alertar para as temáticas da floresta, da biodiversidade e da preservação do meio ambiente», acrescenta Adelaide Almeida, técnica da BeirAmbiente, associação sediada em Vila Soeiro (Guarda) que trabalha há uma década em projectos de desenvolvimento sustentável e eco-turismo.

Paralelamente, está prevista a realização na Guarda de um “workshop” sobre as soluções criativas para o futuro destes jardins, tendo já ocorrido um intercâmbio de árvores entre os parceiros que vai dar origem a zonas temáticas, denominadas de Jardim Português, Jardim Espanhol e Jardim Francês. Mas há mais. A experiência, a desenvolver numa área de quatro hectares, vai depender da «forma eficiente como combinarmos todos os elementos», garante Nélson Avelar, engenheiro co-responsável pelo projecto da BeirAmbiente juntamente com Lesley Martin, explicando que o espaço vai acolher árvores, arbustos, ervas, trepadeiras, fungos, flores, legumes, animais, insectos e água segundo a lógica de quanto mais biodiversidade houver, mais sustentável será o jardim. «Queremos estimular todos os sentidos, do olhar, ao cheiro, passando pela audição e o paladar, já que os visitantes poderão colher legumes no Jardim Comestível», refere o técnico. Para um maior usufruto do local, o que já será possível na próxima Primavera, esperam os responsáveis da BeirAmbiente, serão criados vários percursos pedestres que serpenteiam pelos jardins temáticos (Português, Espanhol, Francês, Sensorial, da Serra da Estrela, Árido, da Paz, das Crianças e Comestível).

Por tudo isso, o Jardim do Ronfrio tem um cariz educacional e lúdico, que será fomentado com a criação de rotas temáticas culturais, mas poderá também contribuir para o desenvolvimento económico de áreas desfavorecidas através do fomento de um turismo ambiental. «Vai ser um pólo de atracção turística para esta zona», acredita Esmeraldo Carvalhinho, vereador da Câmara da Guarda, entidade parceira num projecto com um investimento previsto de 407 mil euros, financiados em 75 por cento pelo programa comunitário Interreg IIIB.

Luis Martins

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